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segunda-feira, 30 de maio de 2016

Passeios inesqueciveis nos melhores trens do vinho do mundo – 1: a fabulosa Linha Ferroviária do Douro, em Portugal

Por Rogerio Ruschel (*)

Meu prezado leitor ou leitora, confesso: eu gosto de trens. Pode ser até infantil querer andar em um meio de transporte geralmente barulhento, lento, demorado e as vezes até poluente, mas os trens tem lá o seu charme turístico. E se eles estiverem integrados a um roteiro encantador, em algumas das regiões vinícolas mais lindas do mundo, é impossivel não gostar. Pesquisei cinco roteiros que vou apresentar para você, aos poucos: a Linha Ferroviária do Douro, Portugal;  o Trem do Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, Brasil; o Trem do Vinho do Napa Valley, California, Estados Unidos; os trens do vinho das Rutas de Vino da Galicia, Espanha e o Trem do Vinho do Vale de Colchagua, no Chile. Hoje vou apresentar o mais antigo deles, a Linha do Douro.

O Douro, no Norte de Portugal, foi a primeira região vinícola do mundo a ser uma Região Demarcada, em 1756, e sua beleza foi reconhecida pela Unesco, que a tombou como um Patrimônio da Humanidade em 2001.  O Rio Douro nasce na Espanha e desagua no Oceano Atlântico nas cidades do Porto e Vila Nova de Gaia, depois de percorrer 897 kms. Passeios e cruzeiros no rio para poder ver e fotografar as vinícolas plantadas nos socalcos das colinas ao longo do rio (veja foto abaixo) movimentaram mais de 600 mil pessoas em 2014 – grande parte turistas.

O rio Douro tem importância histórica e estratégica para a indústria de vinhos do mundo e de Portugal e ao longo de pelo menos 2.000 anos foi uma importante estrada natural no norte de Portugal que permitiu o escoamento de uvas e barricas de vinhos do famoso vinho do Porto, desde os tempos dos romanos; na verdade, até o Século XIX o rio era a única via de comunicação na região até a criação de uma linha de trem e de estradas.

A Linha Ferroviária do Douro, com 203 km entre o Porto e Barca d´Alva, foi concluída em 1887 e em grande parte do seu percurso acompanha as margens do rio Douro. Como toda linha ferroviária, teve uma vida tumultuada: trechos foram fechados e reabertos, ramais foram cancelados, a ligação com a Espanha foi encerrada em 1985, algumas estações estão abandonadas, uma parte da linha foi duplicada e eletrificada - o que evita a fumaceira do trem na foto abaixo.

Mas o que importa hoje é que é uma atração turistica em uma das mais lindas regiões vinicolas do mundo. Em seus 203 quilometros os trens passam por 22 túneis e 35 pontes, muitas de tirar o folego, como algumas que mostramos aqui.

O trecho de Porto a Régua leva cerca de 2 horas e 25 minutos, e muitos pacotes turisticos associam trens e cruzeiros fluviais, com paradas estratégicas em vinicolas, restaurantes e regiões de lazer e compras. Veja na imagem abaixo um mapa das linhas na região e alguns dos paineis de cerâmica da estação de Pinhão.

O governo português tem planos para incrementar e internacionalizar a Linha Ferroviária do Douro, mas mesmo assim ela é já é um caminho-de-ferro com comboios que emocionam turistas – crianças e adultos, e que vai emocionar você. Para mais informações sobre os roteiros, preços e horarios, e bom pesquisar no portal de turismo do Douro, em http://www.douronet.pt/default.asp?id=98
Se você gosta de trens, veja minha viahem no topo de um trem, em 2005, no pico dos Andes do Equador (foto acima), na linha férrea Ferrocarril Transandino Nacional, a mais perigosa do mundo: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/02/no-teto-do-trem-no-topo-dos-andes-uma.html

(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas, gosta de trens e de quem gosta de trens, vinhos e aventuras

sábado, 21 de maio de 2016

Patos adubadores, morcegos protetores e vinhedos energizadores: tres pequenas grandes ideias para a produção de vinhos mais sustentáveis

Por Rogerio Ruschel (*)


Meu prezado leitor ou leitora, não quero ser um eco-chato, mas precisamos pensar sobre o quanto estamos maltratando as condiç∫oes de nosso planeta produzir alimentos – e vinho! Já publiquei muitas reportagens sobre o assunto sobre o mundo do vinho e as pressões provocadas pelas mudanças climáticas – veja ao fim desta matéria.  No que se refere a vinhos, a aposta é em ciclos de produção mais sustentáveis nos vinhedos, nas adegas e na distribuição, e muitas vezes é necessário mais vontade para fazer e menos dinheiro para investir. Veja a seguir três pequenas grandes ideias que podem ser feitas em qualquer vinhedo.

Os patos adubadores


A primeira pequena grande ideia vem de uma vinícola da Africa do Sul que usa patos para substituir agrotóxicos e adubar vinhedos. A vinícola se chama Vergenoegd Wine State, fica em Stellenbosch e vem trabalhando com os patos desde 1984 com resultados 100% positivos. A Vergenoegd tem mais de 1.000 patos que diariamente são soltos todas as manhãs na área produtiva (produtos agrícolas e vinhedos), onde passeiam livremente até metade da tarde. Os patos comem caracóis, insetos e parasitas fazendo o que se chama de controle biológico das pragas nos vinhedos.
Segundo a empresa, esta estratégia tem ajudado a vinícola a reduzir o uso de pesticidas e a manter a produção mais saudável em todos os sentidos. E mais: a imensidão de patos atrai turistas, centenas deles nos fins de semana, que podem fazer piqueniques, passear nos vinhedos, alimentar patinhos e principalmente ver a “Parada dos Patos”.  Pois é, enquanto as crianças se divertem com os patos, como acima, os adultos ficam gastando seu rico dinheirinho em degustações e na compra de vinhos. Aliás, os vinhos são produzidos com uvas carbernet sauvignon, shiraz, merlot, sauvignon blanc e até mesmo a casta portuguesa touriga nacional – e são muito prestigiados.
Com esse trabalho a vinícola está ajudando a manter a vida do solo e o equilibirio do ecossistema no qual os vinhedos estão inseridos, o que foi atestado pela conquista do Selo de Biodiversidade da WWF – Fundo Mundial para a Natureza, aquela simpatico ONG do ursinho panda.

Os morcegos protetores

Outra experiência bem sucedida em utilizar animais para ajudar a combater pragas dos vinhedos vem sendo feita em Portugal. No Alentejo – a principal região produtora de alimentos do país - a vinícola Herdade do Esporão realiza desde 2011 um projeto que oferece “casa e comida” para morcegos defenderem os vinhedos de insetos esfomeados. As poucos eles foram construindo caixas para atrair os animais e hoje a população de morcegos "empregados" com “residência fixa” nas cerca de 40 caixas (como as mostradas nestas fotos) já implantadas nos vinhedos é de cerca de 200 animais.
O projeto da Herdade do Esporão está atraindo morcegos-de-kuhl e morcegos arborícolas, duas das 27 espécies existentes em Portugal, que são muitos pequeninos mas todas as noites comem metade do seu peso em insetos. Os resultados são muito animadores como me disse o gestor agrícola Rui Flores e são altamente positivos não só para os vinhedos, mas tambem para todo ecossistema da região. Estes vinhedos ficam próximos do lago Alqueva, o maio lago artificial da Europa, e a presença dos morcegos ajuda toda a cadeia alimentar da região. A empresa realiza muitos outros investimentos em sustentabilidade e meio ambiente, e está iniciando outro projeto interessante: vai plantar urtiga, um repelente natural de vários insetos.
Os vinhedos energizadores

A Espanha é o maior produtor de vinhos orgânicos da Europa, com uma área de mais de 81.000 hectares certificados, mais de 500 operadores e cerca de 400 vinícolas. E é na Espanha que vem sendo feito um esforço coletivo em uma nova frente da produção sustentável de vinhos: a transformação das sobras da poda das vinhas em biomassa para gerar energia.
O projeto se chama “ Viñas por calor”, nasceu em Vilafranca de Penedés  no contexto da “Estrategia Española del Cambio Climático y Energía Limpia” e vem atraindo parceiros de vários países – na foto acima técnicos de sete países europeus conhecem o projeto, trazidos pela Fundación CIRCE, Centro de Investigación de Recursos y Consumos Energéticos, de Zaragoza. O objetivo é promover o aproveitamento da biomassa proveniente da poda das vinhas para gerar bioenergia para as adegas, reduzir as emissões de CO2, diminuir a conta da energia e até mesmo gerar novos postos de trabalho, mediante a implementação do Círculo Virtuoso da Vinha (CVV).
O projeto vem realizando simpósios e encontros para envolver todos os participantes na cadeia de valor: fornecedores dos restos das vinhas, coletores de biomassa e produtores de energia, distribuidores de energia aos consumidores, e tem a supervisão de um fiador institucional: o município de Vilafranca. O objetivo é ajudar a salvar o planeta para as futuras gerações.
Pois é meu caro leitor ou leitora: pequenas grandes ideias inteligentes “fora da caixinha” podem fazer um planeta melhor e um vinho mais saudável. Eu brindo a isso.

Veja outros artigos de In Vino Vijas sobre vinhos e meio ambiente:

Os impactos do Réchauffement de la Planète (a versão francesa do Aquecimento Global) no mundo do vinho - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/01/os-impactos-do-rechauffement-de-la.html

As mudanças climáticas e a produção mundial de vinhos no ano de 2050 – http://invinoviajas.blogspot.com.br/2016/05/o-vinho-do-futuro-estudo-sobre-mudancas.html

Saiba como a rolha de cortiça preserva os aromas do seu vinho e os recursos do nosso planeta - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/08/fique-esperto-saiba-como-rolha-de.html

Associazione Vino Libero: um manifesto italiano pela produção de vinhos com identidade, honestidade e sustentabilidade - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/02/associazione-vino-libero-um-manifesto.html

Conheça a vinícola portuguesa que emprega morcegos do bem para proteger os vinhedos de insetos do mal - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2016/01/uma-luta-ecologica-na-noite-alentejana.html

(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas em São Paulo, Brasil, e tem um profundo respeito pelo meio ambiente.



sexta-feira, 13 de maio de 2016

Surpresas criativas nas montanhas do Chile: um vinho envelhecido com meteorito de Marte e outro usado para fazer sacrificios a deuses Incas

Por Rogerio Ruschel (*) 
 
Meu prezado leitor ou leitora é realmente muito dificil promover a identidade de um vinho quando se sabe que todos os anos cerca de 100 mil diferentes marcas (rótulos) são lançadas no mercado, no mundo todo! Como sou um profissional de marketing e quero ajudar meus leitores, publico aqui no “In Vino Viajas” histórias de produtos que buscam construir esta diferenciação, como no surpreendente caso destes dois vinhos chilenos. Vem comigo.
Em San Vicente de Tagua Tagua, Chile, um grupo de pequenos empreendedores e empresários se uniu para oferecer opções de turismo, enogastronomia e aventura em torno de uma promessa para o visitante: usufruir do caminho das lendas. San Vicente de Tagua Tagua fica na provincia de Cachapoal, região de Libertador Bernardo O`Higgins (fotos acima e abaixo), distante cerca de 140 km ao sul da capital Santiago, e tem cerca de 40.000 habitantes.
Uma destas lendas é recente mas é realmente curiosa, especialmente para winelovers como eu e você: a produção de um vinho que foi envelhecido com um meteorito vindo de Marte! Você leu certo: o escocês Ian Hutcheon, radicado no Chile há mais de 15 anos e diretor do Observatorio Astronômico Tagua Tagua, buscava uma ideia para atrair clientes para aquela região e misturou duas grandes paixões - vinho e astonomia - e em parceria com a Vinicola Tremonte criou o vinho Meteorito, lançado em 2012.
 
O tal meteorito é um fragmento de apenas 10 centimetros de uma rocha vinda provavelmente do cinturão de asteróides entre Marte e Júpiter, que caiu em solo chileno 4.500 anos atrás, como informou a imprensa chilena. O escocês  astrônomo Hutcheon teve a ideia de "envelhecer" um vinho com o tal meteorito. "Um pouco de vinho é colocado em um barril de carvalho e o meteorito é colocado junto e fica envelhecendo por 12 meses. Em seguida, este substrato vínico é misturado com vinho pronto Cabernet Sauvignon, criando-se o vinho Meteorito”.  Quem explica esse estranho processo produtivo é a Vinicola Tremonte, uma vinícola da região que diz que tem seus vinhedos “alcançando o céu, mas as raizes tocando em uma mina de ouro”.
Não provei o tal do vinho com “acentos marcianos” e desafio até mesmo meu amigo paulistano perito em aromas Renato Frascino (aliás, Embaixador do vinho chileno no Brasil) a identificar o “aroma de meteorito” deste vinho. Não deve ser excepcional, mas como marketing funciona – tanto que eu escrevi e você está lendo esta história. O Meteorito é um cabernet sauvignon, teve sua primeira safra no ano 2010 e pode ser comprado no Observatorio de Tagua Tagua por cerca de R$ 40,00.  Se voce for até lá, aproveite porque além da degustação de vinhos com e sem meteoritos, você vai poder assistir apresentações de aventuras no espaço em formato 3D, ouvir palestras e observar planetas com telescópios computadorizados.
Na mesma região de San Vicente de Tagua Tagua o turista também pode conhecer a Ruta del Sacrificio, uma trilha que seria o caminho da fé de uma comunidade de indios Inca na região há mais de 500 anos (foto acima). Nesta rota o turista pode conhecer e beber o vinho “Sacrificio”, que segundo informam os produtores, é um vinho adequado para oferecer a deuses incaicos. A brincadeira é a seguinte: o turista sobe a montanha de Montecruz com um mapa do tesouro na mão e desenterra sua garrafa de vinho – o Cabernet Sauvignon Montecruz Gran Reserva. Bom marketing, divertido.
No roteiro o turista tem outros benefícios: pode observar as grandes aves da região (a águia Mora e o condor Andino), pesquisar fósseis de dinossauros e de seres humanos (como o do cidadão da foto abaixo, habitante do Cemiterio de Cuchipuy) e passear por trilhas dos Incas nas montanhas da região – que aliás é muito bonita. 
Outra empresa da região, a Winkul Trips oferece passeios all-inclusive de bicicleta para conhecer os patrimônios natural, arqueológico, humano, ecológico e enológico da região, em lugares “onde é impossivel chegar de automóvel” como prometem. É claro que você vai ter onde degustar a ótima comida regional chilena (são quatro restaurantes) e onde se hospedar (cinco hoteis, hostels e pousadas). Mas se você preferir pode se hospedar em um grande hotel 5 estrelas, famoso por receber VIPs: o Viña Vik Millahue que tambem produz vinhos. Mas isso já é outra história.
No Alentejo, Portugal, você também pode fazer turismo aastronômico em meio a vinhedos belissimos, veja aqui: http://invinoviajas.blogspot.com.br/2015/10/lembrancas-da-melhor-regiao-vinicola-do.html
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas em São Paulo, Brasil, e acredita em deuses incas e meteoritos chilenos




sexta-feira, 6 de maio de 2016

A cadeia produtiva do turismo de Napa Valley, Califórnia, Estados Unidos, faturou 4,5 bilhões de Reais em 2015 com o turismo relacionado ao vinho


Por Rogerio Ruschel (*)
Meu caro leitor ou leitora, na Califórnia produtores de vinho, hoteleiros, restauranters, guias, lojistas, gestores públicos e milhões de norte-americanos participantes de cerca de 60 setores da economia comemoram o faturamento de R$ 4,5 bilhões (US $ 1,27 bilhões) deixados por turistas no Napa Valley no ano de 2015.
Este valor representa um aumento de 8,9 % sobre 2014 e o maior ganho percentual de todos os 58 condados da Califórnia, de acordo com um relatório oficial  da Visit Califórnia apresentado dia 2 de maio. Já para toda a Califórnia, os números são ainda mais impressionantes: em 2015 o turismo movimentou 122.6 bilhões de dólares (cerca de 431 bilhões de Reais), garantiu 1.063.000 empregos e 9,9 bilhões de dólares (cerca de 31,6 bilhões de Reais) em recolhimento de taxas e impostos para o Estado da California e para os governos municipais. O turismo na California é um trem em alta velocidade rumo ao futuro, como mostra a foto abaixo.
O relatório, divulgado durante a National Travel and Tourism Week (1 a 7 de Maio de 2016), considera que o turismo é uma das principais fontes de oportunidades de emprego para os californianos e de receitas fiscais para os governos locais. "O turismo é uma parte significativa e crescente da economia da área da baía", disse a Presidente e CEO da Visit Califórnia, Caroline Beteta. "Temos que celebrar as viagens nacionais e internacionais como aceleradores do desenvolvimento da região e dos Estados Unidos, e saber que é importante continuar investindo para manter o sucesso contínuo da indústria de viagens top-of-mind como fonte de benefícios para toda a comunidade."

Especificamente no Napa Valley – a mais importante região vinícola dos Estados Unidos e das Américas - as despesas dos visitantes suportaram a geração de 13.680 empregos e geraram US$ 116 milhões em receitas fiscais (R$ 412 milhões) Na foto acima, Calistoga. "De acordo com o relatório, o número de postos de trabalho relacionados e apoiados pelo turismo aumentou em 3,7 por cento a partir de 2014", acrescentou meu amigo Clay Gregory, presidente e CEO da Visit Napa Valley. "Esses números comprovam que a indústria de viagens e turismo é um motor econômico extremamente poderosa para o Napa Valley e visitar Napa Valley prosseguirá os seus esforços para segmentar nossos esforços de marketing e vendas em períodos de alta e baixa estação".

Só para lembrar: a Visit Califórnia é uma organização governamental, mas opera com perfil de entidade privada, cujo objetivo é desenvolver o turismo e os dirigentes são pessoas com experiência no ramo. E a Visit Napa Valley é uma organização privada, enxuta e completamente voltada para a promoção de negócios; Clay Greogory, o CEO, é um homem de marketing – que está colhendo o que está sendo plantado.
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas em São Paulo, Brasil.


segunda-feira, 2 de maio de 2016

O vinho do futuro: estudo sobre mudanças climáticas desenha um novo mapa da produção mundial de vinhos no ano de 2050


Por Rogerio Ruschel (*)
Meu caro amigo ou amiga, talvez a gente não esteja mais aqui lendo, escrevendo e bebericando vinhos no ano 2050. Mas é bom saber o que já está acontecendo hoje e deve se acelerar como tendência no mundo do vinho em relação as mudanças climáticas, ao aquecimento global e outras questões que afetam a agricultura como um todo e a sobrevivência dos vinhedos em particular. Na verdade nós seres humanos precisamos inventar um modo mais inteligente de manter a beleza (e a eficiência produtiva) da natureza que seja melhor do que o da foto abaixo.

Nós sabemos que o mundo produz vinhos com cerca de 2.000 diferentes tipos de uvas (como as da foto abaixo) e organizações internacionais investem para verificar o desempenho daquelas com maior potencial para sobreviver em um mundo mais quente em 2050.

Entre outros dados, o estudo “Climate change, wine, and conservation” revela um fato preocupante para os grandes players do momento: as regiões mais produtivas no mundo de hoje não serão capazes de manter o seu desempenho no futuro. Por outro lado o estudo revela que em outras regiões do planeta, mais frias, onde a produção agora é muito menor ou até mesmo inviável, se tornarão áreas potenciais de produção de vinho ou mais eficientes. O mapa que abre este artigo - publicado pelo portal Vinetur, da Espanha - apresenta um resumo do impacto das mudanças climáticas nas principais regiões produtoras de vinho do mundo no ano 2050. E a foto abaixo mostra a vida real do mundo do vinho.

Já se sabe que a Austrália e a França estão assustadas com as mudanças do regime de chuvas, e que muitos especialistas apostam em vinhos biológicos para enfrentar os tempos difíceis. Não está cientificamente confirmado, mas a região de vinhos de altitude em São Joaquim, na serra de Santa Catarina (foto abaixo), poderá se beneficiar com o frio.

Este estudo foi realizado por um grupo de pesquisadores indepedendentes do setor de vinho, de universidades dos Estados Unidos, China, França e Chile – veja a fonte no fim deste texto. Aliás, já publiquei várias reportagens sobre o assunto aqui no In Vino Viajas – veja no fim deste texto os links de algumas destas matérias. O estudo prevê um aumento das regiões vinícolas mais frias, aquelas com temperaturas médias anuais entre 13-15 °C de GST. O GST - Growing Season Temperature é um índice desenvolvido pelo Instituto de Investigação Agrária de Tasmânia (Austrália) para medir temperaturas médias, e é calculado tomando-se a temperatura média para cada mês da temporada da produção de vinho de sete meses (Outubro a Abril na hemisfério sul, e de abril a setembro no hemisfério norte), dividida por sete.


Você que é leitor de In Vino Viajas vai ser informado em primeira mão o que mundo vai saber no fim do mes de maio: o Simpósio Internacional sobre Temperaturas Frias do Vinho (em inglês International Cool Climate Wine Symposium - ICCWS), que vai ser realizado em Brighton, Inglaterra, de 26 a 28 de maio de 2016, vai consolidar com mais clareza os melhores lugares de clima frio para a viticultura no futuro, dependendo da sua GST. Mas já vem sendo divulgado um ranking das mais frias regiões vinícolas do mundo e alguns impactos potenciais; ou, digamos assim, uma suspeita do que poderia acontecer nestas regiões firas - veja a seguir.

Marlborough, Nova Zelândia (15,4 ° C)
As variedades Sauvignon Blanc, Pinor Noir e Chardonnay são colhidas em 23.200 hectares. O clima é frio e seco e a Sauvignon Blanc amadurecem mais lentamente em Awatere Valley. Na área mais próxima do litoral tem muito vento frio e as culturas deverão ser reduzidas devido a uma floração deficiente.

Rheingau, Alemanha (15,2 ° C)
Pinor Noir e Riesling são as principais variedades, colhidas em 3.200 hectares. Esta área é constituída por encostas íngremes com orientação para o sul, contribuindo para receber mais temperaturas frias e em um alto risco de geadas tardias. No período mais frio da colheita são obtidas as melhores uvas das encostas viradas para o sul, e nos anos mais quentes as uvas de frente para o leste serão mais beneficiadas.

Okanagan Valley, British Columbia, Canadá (15,1 ° C)
Merlot, Pinot Gris, Chardonnay e Pinor Noir são as variedades mais importantes. Com o tempo mais frio no norte, neste lugar o risco de congelamento é reduzido graças ao lago Okanagan. O ice-wine (vinho do gelo) produzido em baixas temperaturas em torno de -8 ° C e -14 ° C pode se beneficiar nesta região.


Suíça (14,9 ° C)

Pinot Noir, Chasselas, Gutedal e Gamay são plantadas em 14.800 hectares. Esta área é caracterizada por muitos meso-climas. As vinhas são plantadas em diferentes altitudes acima do rio Rhone. As áreas mais frias estão nas vinhas mais altas e com tempo mais frio em Valais.


Central Otago, Nova Zelândia (14,8 ° C)
Pinot Noir, Pinot Gris e Riesling estão em 1.950 hectares. Especialistas dizem que a variedade Pinot Noir, que tem níveis de açúcar e maturidade que o torna diferente,  poderão ser incrementados. Nesta área é normal ter mudanças bruscas de temperatura, o que fornece uma intensidade frutada, cor e acidez nas uvas – e isso pode aumentar.

Kremstal, Áustria (14,7 ° C)
As variedades Grüner Veltliner, Riesling e Zweigelt estão plantadas em 2.400 hectares. Nesta área, um sistema de três camadas com a idéia de diferentes épocas de coleta é usado, e a inclinação de suas encostas aumenta a energia solar e os ventos moderados Danúbio ajudam a manter um bom clima.

 

Champagne (14,7 ° C)

Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay são colhidas em 35.000 hectares. O clima desta região permite a produção de um vinho espumante com uvas de maturação baixa. 

Tasmânia (14,4 ° C)

Pinot Noir, Chardonnay e Sauvignon Blanc são cultivadas em 1.800 hectares. Esta área tem um clima excelente, tanto para a produção de vinhos espumantes como para vinhos tranquilos.

Região do Rio Ruwer, Alemanha (13,8ºC)

Riesling, Müller-Thurgau e Elbling são as variedades colhidas em 8.800 hectares.

Nesta área, os vinhos de diferentes aromas poderão assumir um maior equilíbrio e elegância, porque as plantas têm mais dificuldades para amadurecer com o frio mais intenso.

 

Saiba mais no estudo “Climate change, wine, and conservation” em http://migre.me/tFzgx
Alguns artigos já publicados por “In Vino Viajas” sobre sustentabilidade:
·      Microvinhas: os benefícios de produzir vinhos que são eco, micro, top e show - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/11/oportunidades-e-dificuldades-para-o.html

·      MicroVinya: a revolução dos minifúndios sustentáveis de Alicante, Espanha, com vinhedos centenários recuperados e vinhos com poderosa identidade social - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/05/microvinya-revolucao-dos-minifundios.html

·      Os impactos do Réchauffement de la Planète (a versão francesa do Aquecimento Global) no mundo do vinho - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/01/os-impactos-do-rechauffement-de-la.html

·      Fique esperto: saiba como a rolha de cortiça preserva os aromas do seu vinho e os recursos do nosso planeta - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/08/fique-esperto-saiba-como-rolha-de.html

·      Associazione Vino Libero: um manifesto italiano pela produção de vinhos com identidade, honestidade e sustentabilidade - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/02/associazione-vino-libero-um-manifesto.html