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sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Viagem visual: Dia do Enoturismo 2015 extrapola a Europa e promove milhares de eventos em mais de 100 municípios de 10 países neste mes de novembro


Por Rogerio Ruschel (*)
Meu querido leitor ou leitora, aqui está uma boa ideia: o Dia do Enoturismo Europeu cresceu mais de 300% em apenas sete anos e atualmente é comemorado ao longo de todo o mes de novembro em pelo menos 14 países de tres continentes. Ao longo desta matéria publicamos uma série de cartazes relacionados ao evento, mostrando que o Dia do Enoturismo é sinônimo de lazer, entretenimento, cultura e confraternização.


O Dia do Enoturismo Europeu foi criado em 2009 pela Recevin, a Rede Europeia das Cidades do Vinho, uma entidade sem fins lucrativos que reúne municípios nos quais o vinho é econômicamente estratégico de 11 países europeus: Alemanha, Áustria, Bulgária, Eslovenia, Espanha, França, Grécia, Hungria, Itália e Portugal.


A Recevin oferece às cidades uma coalisão de interesses políticos e uma plataforma de intercâmbio de experiências, além dos ganhos de trabalhar em conjunto; na verdade a Recevin amplia o trabalho associativo dos países participantes que mobilizam municípios em seus paises, tais como a AMPV – Associação dos Municipios Portugueses do Vinho, a Cittá del Vino da Itália, aIter Vitis da França, a Acevin da Espanha e outras.


Uma das atividades que melhor representa esta capacidade de mobilização do trabalho em conjunto é a comemoração do Dia Europeu do Enoturismo. Instituido em 2009 para ser comemorado no segundo domingo de novembro, a celebração do Dia Europeu do Enoturismo contou naquele ano com a participação de 33 municipios e rotas de vinho de 4 países europeus (Espanha, Grécia, Itália e Portugal).Veja abaixo a programação da cidade de Bento Gonçalves, no Vale dos Vinhedos, Brasil).



Já em 2014 mais de 80 municípios e rotas de vinho de cinco países europeus participaram, e o evento expandiu fronteiras e foi também comemorado nos Estados Unidos, Argentina, Brasil e Uruguai. 


O Dia Europeu do Enoturismo compreende uma série de eventos baseados na promoção dos valores do turismo e dos territórios do vinho que cada cidade organiza no seu território e que são promovidos conjuntamente de modo a que haja um maior impacto ao nível de divulgação.


Entre os eventos estão o enoturismo clássico com a abertura das adegas, a descoberta da riqueza paisagística, a valorização e venda de vinhos, azeites e outros produtos típicos, artesanais e genuínos que refletem a cultura, a natureza e a tipicidade do território - mas também a organização de eventos técnicos sobre vitivinicultura.


Na maioria dos casos os cartazes que estamos publicando são apenas parte do material de divulgação dos municípios ou rotas de vinho, mas a programação pode incluir mais de 40 eventos em algumas cidades – procure em cada cidade. Por isso em 2015 estima-se a realização de cerca de 1.000 eventos em 100 municípios.


Só em Porrtugal, já haviam divulgado sua programação 19 municípios: Barcelos, Cartaxo, Coruche, Reguengos de Monsaraz, Viana do Castelo, Marco de Canaveses, Loures com Rota do Vinho de Bucelas, Colares e Carcavelos, Silves, Nelas, Montijo, Borba, Palmela, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Melgaço com Rota do Alvarinho e Tomar.  
Eu já comecei a comemorar: um brinde ao Dia Interncional do Enoturismo! 

(*) Rogerio Ruschel edita In Vino Viajas a partir de São Paulo, Brasil e acha que todos os dias são do Enoturismo Mundial


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Lembranças da "Melhor Região Vinícola do Mundo a Visitar": belezas e delícias de Regengos de Monsaraz e dos campos do Alentejo, Portugal

Por Rogerio Ruschel (*)
Meu querido leitor ou leitora, vou começar esta lembranças com poesia: parafraseando o poema I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, digo que “meninos, eu vi!”. Vi e me apaixonei por Reguengos de Monsaraz (a Cidade Européia do Vinho 2015), Monsaraz e seu castelo (foto acima, de João Fructuosa), São Pedro do Corval, Mourão e vizinhança no Alentejo, a região mais agrícola de Portugal, e também uma das mais bonitas.
 
E olha que dizer isso sobre uma região de Portugal é muito difícil porque, mesmo pequeno (é menor do que o Estado de Santa Catarina, aqui no Brasil) Portugal atrai turistas do mundo inteiro por uma grande lista de razões. Algumas destas razões sobre o Alentejo você vai ver a seguir, as mesmas que fizeram com que o jornal norte-americano USA Today a considerasse a melhor região vinícola do mundo para visitar, em 2014. E quem vai discordar deste que é um dos maiores jornais do mundo?  Na foto abaixo, de João Fructuosa, as videiras  se fundem com o céu e o lago Alqueva, na poética e premiada Algarve que conheci.

Lembrei do poeta romântico Gonçalves Dias porque se “nossa terra tem palmeiras” como ele escreveu, o Alentejo tem campos, muitos campos e que produzem o que precisamos para uma vida de enófilo: campos com vinhedos (a árvore que produz vinhos), com sobreiros (a árvore que produz rolhas de cortiça), com olivais (a árvore que produz o azeite de oliva), campos com cabras, vacas e ovelhas que produzem carne, leite e queijos e os famosos porcos alentejanos, especializados em nos proporcionar deliciosos enchidos e presuntos. Fiz uma degustação de azeites em uma típica casa alentejana na Mercearia Ilegal (foto abaixo) e também visitei uma fazenda de cabras onde fotografei o jovem da foto abaixo.


E para a sobremesa dos turistas enófilos, no Alentejo as gentes locais produzem doces impressionantemente deliciosos, e mel – um delicioso mel de abelhas alentejanas! O Alentejo é considerado o celeiro de Portugal e vem arrancando elogios de publicações especializadas em turismo de bom gusto de todo o mundo com sua beleza, simplicidade, conjunto de atrações - e preço acessível, meu caro leitor, porque este é outro grande benefício de viajar para Portugal.  Na foto abaixo, um bosque de sobreiros, um montado de sobreiros.

O que destacar numa região destas que tem duas cidades tombadas como Patrimônio da Humanidade – Évora e Elvas – e o famoso castelo de Monsaraz? Évora (foto abaixo) tem mais de 2.000 anos de história, embora sua data de fundação seja “apenas” em 1.166; mas bem antes disso a cidade foi sede das tropas do general romano Sertório que junto com os lusitanos, antigos moradores da região, teriam enfrentado o poder de Roma.

Já Elvas, que fica a apenas 8 quilometros da Espanha, foi a mais importante defesa do território português e a cidade mais fortificada da Europa durante muito tempo – e suas muralhas, junto com o centro históirico da cidade, são agora Patrimônio da Humanidade. E para mim Elvas tem outro charme especial: fica no municipio de Portalegre, que me lembra de Porto Alegre, a capital do meu querido (e também rural e vinícola) estado do Rio Grande do Sul. Sobre Monsaraz, me desculpe meu caro leitor ou leitora, mas como estive lá, caminhei por lá, fotografei por lá, entrevistei por lá, almocei e jantei por lá, quero apresentar em outra reportagem por aqui. Veja um pouquinho do castelo nas fotos abaixo.


Outro patrimônio mundial desta região do Algarve é um dos céus mais claros e limpos do mundo, razão pela qual oferece aos visitantes a possibilidade de fazer uma viagem interestelar na Rota Dark Sky Alqueva, o primeiro sitio certificado de turismo astronômico do mundo (fotos abaixo). E se você quiser conhecer nossas estrelas, astros e galáxias, saiba que pode ter ao seu lado gente de todo o mundo: na semana em que estive lá, uma diretora da NASA estivera no local fazendo palestra e pesquisando o universo. Não sei se ela procurava alguém em específico em Marte (já que agora eles confirmam a "potencial existência de vida"), mas eu tenho quase certeza que vi meus amigos  do Cinturão de Órion! Veja na foto abaixo o guia indicando o caminho para os turistas, e uma foto do astrofotógrafo Miguel Claro, um dos dirigentes da Rota Dark Sky Alqueva.

Como estamos em Portugal, certamente se come e se bebe muito bem no Alentejo. Visitei três das nove vinícolas do município de Reguengos de Monsaraz em companhia de seus enólogos: a Herdade do Esporão (com Rui Flores, na foto abaixo), a Carmim (com Rui Veladas) e a Monte dos Perdigões (com Jorge Rosado). A Herdade do Esporão – que também tem unidades no Douro, mas tem sede no Alentejo - é conhecida dos brasileiros por seus azeites e pelos ótimos vinhos Monte Velho, Torre do Esporão, Verdelho e Defesa.

Mas também é muito conhecida (e respeitada) por suas práticas de sustentabilidade, que fiz questão de conhecer e que quero apresentar em outra reportagem.  A Carmim é a maior cooperativa vinícola de Portugal, e aqui no Brasil pode-se encontrar seus azeites e também vinhos como os Monsaraz Millenium, Premium e os monovarietais de Touriga Nacional (muito bom!), Alicante Bouschet e Syrah. Meu passeio por lá e pela Monte dos Perdigões também vai ser mostrado aqui.

O Alentejo fica no centro-sul de Portugal (veja mapa acima), é a maior região do país e embora tenha muitos campos, lá fica o maior lago artificial da Europa – o Alqueva – e dois importantes parques - o Parque Natural da Serra de São Mamede e Parque Natural do Vale Guadiana. É uma região estratégica porque lá se encontram as bacias hidrográficas dos tres maiores rios do pais, Tejo, Sado e Guadiana que encontram o mar na região da Grande Lisboa.

Como tem acesso pelo mar (onde estão charmosas aldeias como Sines e Porto Covo destacadas pelo jornal britânico The Guardian em 2014 como as melhores da Europa) e é plano, o Alentejo vem atraindo moradores e visitantes há muito tempo – mais específicamente há mais de 7.000 anos. Nesta região estão muitos monumentos megalíticos: já foram catalogados mais de 100 menires isolados, cerca de 800 antas (casas de pedra) e perto de 450 povoações megalíticas, só no concelho de Évora. Esta riqueza da pré-história no Alentejo é das mais importantes da Península Ibérica, porque alguns datam de até 5.500 anos AC. Na foto acima está o Cromeleque dos Almendres e abaixo este repórter examinando um menir com o guia.

Não posso terminar esta lembrança do Alentejo sem registrar outra atração turística tombada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco - e agora por mim: o Cante Alentejano. Mais do que dizer que “meninos, eu vi!”, devo dizer que “meninos, eu ouvi!”. 

Estava no Castelo de Monsaraz (acima) jantando com o grupo de palestrantes da Conferência Internacional da Vinha e do Vinho, comendo bochechas de porco e arroz de tamboril com um vinho da região no restaurante Templários (que tem este nome porque pertenceu a esta ordem militar religiosa no século XII, acredite!) quando o prefeito José Calixto, nosso anfitrião, nos brindou com uma apresentação de Cante Alentejano. 

--> Cerca de 25 agricultores, todos com mais de 50 anos, pessoas rústicas por trabalharem na terra, entraram no salão e cantaram canções simples, rurais, inocentes – e absolutamente lindas! É uma experiência inesquecível porque você espera um coral de marmanjos e ouve uma canção arrebatadora. Não tenho vergonha de dizer que me emocionei (como dá prá ver na foto abaixo, na qual estou disfarçando a emoção, e tive que me esconder no banheiro para lavar o rosto) - onde descobri que não tinha sido o único ...

Pois é, meus queridos leitores e leitoras, passei alguns dias nesta região do Alentejo Central e vi, ouvi, provei e vivenciei belezas e delicias das quais não vou me esquecer nunca mais e recomendo com insistência. Simplesmente fiquei apaixonado. E como um apaixonado, nas próximas semanas enviarei cartas de amor na forma de reportagens sobre todas estas belezas e delicias do Alentejo.
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas a partir de São Paulo, Brasil, e lembrou muito de sua terra, Rio Grande do Sul, quando visitou o alentejo. Agora quer voltar – para o Alentejo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Vêneto, trentino e toscano: veja como dialetos da Itália se fundiram com o português para criar o talian, um idioma único que canta, brinda e permanece vivo no Brasil


Por Rogerio Ruschel (*)
Meu prezado leitor ou leitora, acho que você vai se surpreender com uma informação muito interessante sobre a cultura brasileira. Sabe qual é o segundo idioma mais falado no Brasil? Não, não é o inglês (falado apenas em ambientes profissionais), nem um idioma indígena – é o Talian, derivado de dialetos falados na Itália no século XIX trazido pelos imigrantes, e atualmente falado regularmente por cerca de 500 mil pessoas em 133 municípios brasileiros. E cantado animadamente nas regiões vinícolas do país, como mostra a imagem acima, de poster da revista Brasil Talian.

Quando os imigrantes italianos começaram a chegar ao Brasil em 1875 (na foto acima, familias de imigrantes italianos no início do século XX em São Paulo), ainda não existia um idioma oficial único na Itália e muitos dialetos eram falados em todo o país – o italiano adotado oficialmente tem suas principais raizes no Toscano, dialeto falado na região de Florença. Abaixo, filó italiano, animada música com dança e letra em Talian, que é uma das heranças italiana preservada no sul do país.

Os italianos que imigraram para o Brasil vieram de diferentes partes da Itália, mas eram especialmente familias do Vêneto, Lombardia e Trentino-Alto Ádige. Em alguns locais o dialeto trazido acabou se sobrepondo aos demais, como ocorreu com a comunidade de Pomeranos, em Santa Catarina, onde o dialeto trentino conseguiu se manter; já na serra gaúcha o que se disseminou foi o uso do Vêneto, principal raiz do Talian segundo os especialistas. Relembrar um pouquinho da história explica a preservação dos dialetos. Nas primeiras décadas de imigração, havia grande resistência da comunidade italiana em se misturar com os brasileiros. No sul do Brasil muitas colônias italianas eram situadas em regiões isoladas ou relativamente independentes da população brasileira, o que permitiu a manutenção dos dialetos por gerações, mesmo absorvendo diversas influências da língua portuguesa.

O vêneto que se manteve na serra gaúcha é arcaico quando comparado ao vêneto falado atualmente na Itália, pois é semelhante ao que era usado no século XIX. E é resistente, porque mesmo com a campanha de nacionalização de Getulio Vargas, em 1930, e com II Grande Guerra, em 1945 – quando o idioma italiano foi proibido no Brasil – este dialeto italiano falado em regiões do sul do país se manteve, com o nome de Talian. Na foto acima capa do livro do Frei Aquiles Bernardi com a saga de Nanetto Pipetta, que também virou peça teatral.

O Talian atualmente é falado por cerca de 500 mil pessoas em 133 municípios brasileiros, é reconhecido como "Referência Cultural Brasileira" pelo Ministério da Cultura (MinC) e como patrimônio cultural pelos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Nos municipios gauchos de Serafina Correia, Flores da Cunha, Parai e Nova Erechim o Talian é lingua oficial, ao lado do português. Acima, foto de placa de rua em Serafina Correa.

Muitos pesquisadores italianos e brasileiros estudam o assunto. Em Garibaldi, também no Rio Grande do Sul, são realizados cursos para que o idioma não se perca – a turma mais recente teve 32 alunos que se formaram em junho de 2015 (foto acima). Ivane Fávero, Secretária de Cultura e Turismo do município resume o porque de tanta preocupação com o idioma: mantê-lo vivo representa uma riqueza imaterial na preservação da cultura, e a importância de sua influência na gastronomia, arquitetura, festas e nos valores da região. Aliás, recentemente a professora universitária, jornalista, intérprete e tradutora italiana Giorgia Miazzo esteve em Garibaldi fazendo oficinas, como complemento de sua tese defendida na Universidade de Veneza Cà Foscari sobre “Cantando em talian: Valorização do patrimônio cultural e imaterial linguístico da emigração vêneta para o Brasil por meio da música e da glotodidática lúdica”.

Aqui no Brasil diversos livros já foram publicados no idioma Talian e existem dicionários nos tres idiomas, de Jaciano Eccher e um Dicionário Português-Talian de autoria do professor Darcy Loss Luzzatto (fotos acima e abaixo).


Existem estações de rádio que transmitem algumas horas de sua programação em Talian em vários municípios dos estados do RS, SC, ES, PR e MG; e desde 2013 existe uma revista a ”Brasil Talian”. (http://www.talianbrasil.com.br/). Quer participar ativamente? O site Gruppo Italiani in Brasile (http://italiani-inbrasile.blogspot.com.br/) difunde música e realiza há 23 anos um Encontro Nacional dos Difusores do Talian em Marau-RS.


Em 2001, a Associação dos Apresentadores de Programa de Rádio Talian pediu o registro da língua como patrimônio cultural do Brasil. Estas e todas as iniciativas para preservar, ampliar e resgatar o dialeto Talian são importantes. Resgatar o Talian significa marcar para sempre a cultura comunitária no Coração das futuras gerações – ou no “Coraçon” (em Talian), no “Core” ou “Cor” (em Vêneto Original) ou no “Cuore”, como se diz atualmente no italiano oficial.
E para comemorar isso podemos abrir uma Garrafa de vinho, ou uma “Garafa” (em Talian), uma “Botiglia” (em Vêneto Original) ou então uma “Bottiglia”, no italiano atual. Meu queriodo leitor ou leitora, proponho um brinde para a cultura brasileira!

 

(*) Rogerio Ruschel é gaucho e morou na serra gaúcha, mas atualmente mora, bebe, escreve e trabalha em São Paulo


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Memórias da paixão pela terra e a tradição do Vinho Verde no Solar do Louredo, Alto Minho, Portugal, às portas de uma safra excepcional


Por Luís Pedro, texto (*) e Rogerio Ruschel, edição (*)

Meu prezado leitor ou leitora, entre os vinhos dos quais gosto muito estão os Vinhos Verdes de Portugal e Espanha. Estive na região em julho e fiz um verdadeiro curso intensivo para conhecer, entender e apreciar os Verdes (e acabei me apaixonando por tudo que vi...). Uma das visitas técnicas que fiz foi ao Solar do Louredo (fotos acima, abaixo e em toda a reportagem), que preserva uma vinha com 500 anos de idade e que já apresentei aos leitores aqui. Esta região do noroeste peninsular, em Viana do Castelo, Portugal, está colhendo uma safra excepcional este ano e fala-se - talvez com exagero - que 2015 poderia ser a “safra do século”. Pois então, para documentar um pouco a memória destas comunidades que resultam em vinhos tnao diferentes e exclusivos, convidei Luís Pedro, engenheiro pela Universidade do Minho e responsável pela comunicação do Solar do Louredo - e um apaixonado pelos Verdes, como eu – a nos revelar o porque de tanta alegria. Com a palavra meu amigo Luís Pedro.



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“São seculares as vindimas no Solar do Louredo e por séculos vem-se colhendo por aqui excelentes uvas para Vinhos Verdes de prestígio internacional. E este ano de 2015 revestem-se de uma enorme expectativa, pois tudo indica que será um ano de exceção, quer na qualidade, quer na quantidade. As fantásticas condições atmosféricas verificadas durante todo o ano fazem prever vinhos de uma qualidade impar. Há até quem fale na “Vindima do Século”.


Mas não é só o clima, a par das boas práticas agrícolas, que nos permitem especular sobre a qualidade dos próximos vinhos. É que no Vale do Lima, é ancestral a arte da vinificação dos Verdes, tendo sida apurada ao longo dos tempos. A Quinta do Solar do Louredo, data já do século XVII; ela espreguiça-se nas margens do Rio Lima, em pleno Alto Minho, em Geraz do Lima.

No passado aqui se instalaram reis e rainhas, trazendo as suas cortes, atraídos por estas terras ricas e férteis, fazendo assim frente a tempos adversos. Eram os “senhores”, geradores de trabalho, em troca de recompensas às gentes das Terras de Geraz. Dedicavam-se à produção de gado e à agricultura, iniciando-se também na produção de vinho para consumo próprio. 

É assim que nasce a tradição deste povo na produção de uvas e de vinhos. São vinhos únicos no mundo, exclusivos de Geraz do Lima, vinificados essencialmente a partir das castas Loureiro (acima), Trajadura e Vinhão (abaixo), que aqui crescem e abundam em condições muito peculiares de solo e de clima. Os solos apresentam uma diferenciação de perfil muito exclusiva, extremamente ricos em minerais, numa combinação aleatória de solos argilosos e de piçarra. Resultam das contribuição das chuvas que arrastam consigo os constituintes das montanhas, e das cheias que aqui fazem chegar o material dos rios.

Quanto ao clima, ele também assume caraterísticas de exceção. Resulta de um choque entre o clima do atlântico (muito frio e húmido) que vem do mar em direção ao interior, e do clima do interior (mais temperado e seco) que vai em direção ao mar, fazendo do rio a sua estrada. Este choque produz, aqui, um micro clima propício para o cultivo das castas brancas Loureiro e Trajadura que maduram a temperaturas suaves, fornecendo muito aroma aos vinhos e uma acidez rica e extremamente equilibrada. Esta combinação de solos e de clima confere aos vinhos produzidos na região e no Solar do Louredo características exclusivas, diferentes de todos os outros.

As gentes de Geraz conhecem as suas terras e o seu clima como ninguém. Especializaram-se na vinicultura ao longo dos séculos através da sua sabedoria empírica e os enólogos do Solar do Louredo respeitaram desde logo o conhecimento dos antepassados. Tiveram a preocupação de falar com as pessoas mais velhas, de perceber essa sabedoria ligada à plantação, à rega e à poda. A sua relação com as luas e com as marés. Coisas que as populações não sabiam explicar, mas que davam certo. Conhecimento acumulado e aperfeiçoado ao longo dos séculos que lhes permitiu obter as melhores uvas.

Hoje a ciência explica o porquê desses resultados… Então, se a essa sabedoria juntarmos a melhor tecnologia disponível para vinificar, conseguimos elevar o potencial da nossa matéria-prima que é a uva. Assim, não será necessário proceder a grandes correções enológicas na adega para conseguirmos grandes vinhos, tal qual um chefe de cozinha não precisa de grandes transformações se trabalhar com bons ingredientes.  Abaixo dois dos produtos da casa.


No Solar do Louredo alia-se tradição à inovação, o conhecimento empírico ao científico, somando a investigação universitária. E as uvas são provenientes de vinhas em modo de produção integrada, através da gestão racional dos recursos naturais e conservação do ecossistema agrário, contribuindo assim para uma agricultura sustentável – como na foto abaixo, um mini-aqueduto centenário. Se a tudo isto somarmos então as condições meteorológicas raras que marcaram o último ano agrícola, que agora estamos colhendo, estamos então a falar duma colheita de referência: a uva apresentou um excelente desenvolvimento ao longo de todo o ciclo vegetativo, resultando teores de açúcar que indicam a maturação óptima da colheita. Uma colheita notável!

O Solar do Louredo prevê com esta vindima duplicar a sua produção, reafirmando a sua missão em produzir os melhores Verdes do mundo. Até a colheita de 2015 estar disponível no mercado, o foco é o Vinho Verde Tinto Solar da Videira (abaixo), um tinto de fusão, de acidez totalmente controlada e final feliz a ameixas vermelhas maduras e notas de chocolate que é uma homenagem à Videira dos 500 anos, a mais antiga de Portugal, a tal que resistiu a Napoleão, às duas grandes guerras mundiais e ainda sobreviveu à Filoxera, praga que devastou a Europa a partir do ano de 1860. (na foto abaixo)".


--> Saiba mais sobre  o Solar do Louredo aqui: http://solardolouredo.com/
(*) Luís Pedro é licenciado em engenharia pela Universidade do Minho, em Portugal, trabalhou com franchising em Portugal, fez parte do corpo redatorial de revistas como a Franchising & New Business e Negócios e Franchising e participou nos programas de internacionalização de marcas. Desde 2014 é Dreamer no Solar do Louredo, respondendo pelos departamentos de Comunicação e Estratégia, desenvolvendo os programas de enoturismo, promoção da marca, imagem, eventos e novos mercados.   
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas