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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Azeite de oliva: veja como esta indústria está brotando no Brasil e as oportunidades que já estão maduras


O Brasil é um grande importador de azeite de oliva, o terceiro maior do mundo: importamos US$ 316 milhões em azeite e US$ 121 milhões em azeitonas em 2013.  Segundo informes sobre a produção mundial de azeite de oliva em 2013/2014 (veja quadro abaixo) a liderança da Espanha continua incontestável, com mais de 55% da produção mundial e a Europa é a região líder com 75% do azeite mundial. Países emergentes de outros continentes (América, Austrália e China) são responsáveis ​​por apenas 3,8% da produção. Mas mesmo assim o Brasil tem mercado e condições de produção para substituir importações  que são muito altas.

Ao que tudo indica em 10 anos o Brasil será um pequeno produtor de azeitonas e de azeite de oliva, mas já estaremos substituindo importações. No primeiro post desta série (veja em 
http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/05/azeite-de-oliva-made-in-brazil-producao.html ) mostramos que esta é uma grande oportunidade para interessados e a região sul do Brasil tem clima e solo propícios para a plantação das oliveiras, como mostrado no mapa abaixo. Então porque não produzir aqui? 


Desde 2012 o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) vem apoiando a produção de azeitonas, especialmente com a atuação de um dos seus órgãos, a Embrapa, que estuda solos, trabalha no desenvolvimento de mudas de oliveiras adequadas e investe em um laboratório para análise da qualidade dos azeites fabricados e consumidos no País. 



Em 2012 tinhamos cerca de 600 hectares com oliveiras no Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais, mas a idéia é aumentar em pelo menos 20% esta área a cada ano. E isso vem sendo feito por agroindustrias, mas especialmente por pequenos produtores – geralmente famílias – que, como na Itália e Portugal, podem não ser os grandes exportadores mas são eles que ajudam a manter a produção de azeites com personalidade, exatamente como com vinhos.



Para registrar um exemplo típico do que está acontecendo com as oliveiras no solo brasileiro, In Vino Viajas foi buscar o depoimento do casal Ricardo e Monica Ruschel, um depoimento que pode incentivar outros produtores – amadores ou profissionais – a perceberem a oportunidade e considerar as dificuldades de produzir azeite de oliva no Brasil. Veja o depoimento deles a seguir.



Nossas oliveiras

Por Monica e Ricardo Ruschel (*)

Quando estivemos na Itália, em 2008, ficamos hospedados numa  residência que tinha um imenso jardim. Neste havia pequenas plantações de oliveiras, tomates e lavandas. A proprietária, com muito orgulho, nos mostrou e ofereceu pratos executados com as conservas de tomates e muito azeite, tudo produzido pela propriedade. Os quartos sempre tinham, nas gavetas, maços de lavanda seca que os perfumavam suavemente. Fiquei encantada, e quando voltamos providenciei trazer junto umas sementes de lavanda e manjericão, outro tempero recorrente na culinária italiana. 


Como moramos em apartamento, nem cogitamos em trazer mudas de oliveiras, ou melhor, nem nos passou pela cabeça tal feito. Mas, em 2009, quando passamos por Mendoza, Argentina, visitamos um imenso pomar de oliveiras e conhecemos o processo de extração do azeite. Nesta oportunidade estávamos acompanhados de um casal amigo, cuja família possui propriedade rural, aí então, começamos a cogitar a ideia de plantar alguns pés de oliveiras apenas para consumo familiar – uma experiência. Quando regressamos apresentamos uma proposta de parceria que foi muito bem recebida. Depois de alguns contatos partimos para a ação.



O lugar escolhido foi a Fazenda Figueira, em Garruchos, meio hectare cercado, vedado ao ingresso de gado. (Garruchos é um município com 3.500 moradores, e que faz fronteira fluvial com as províncias Argentinas de Corrientes e Missiones).  O clima é adequado ao cultivo de oliveiras: elevadas temperaturas, baixo índice pluviométrico e muito frio para a hibernação. Nos associamos à Associação dos Olivicultores de Caçapava do Sul, a OLISUL, por serem muito interessados e prestarem a orientação necessária para o cultivo da planta. Encomendamos as mudas através da associação que importava da Espanha: 150 mudas da variedade Arbequina - veja na foto abaixo como recebemos as mudas. O passo seguinte foi a análise do solo e o “repique“ das mudas para suporte maior, que mostramos na foto abaixo. 


As fotos abaixo mostram as mudas depois de feito o repique (transplantar para um suporte maior) e com a aplicação de lã de ovelha, no talo, para evitar ataques de formigas. Na foto seguinte aparece uma parte do pomar plantado com as estacas e algumas com uma tela protetora contra um "curioso" lebrão que andava por lá.



Finalmente, depois de  3 meses, fizemos a plantação no solo, definitiva. Contamos com apoio fundamental das meninas do casal (netas emprestadas) e outros amigos (foto abaixo), foi uma festa da plantação. E a sorte foi lançada. Agora temos que cuidar e podar das árvores enquanto elas crescem, como podemos ver nas fotos abaixo, com 1 e 3 anos, aproximadamente.



Por enquanto nossa intenção é produzir apenas para consumo próprio, como uma experiência, podendo, mais tarde, ampliar a extensão do pomar. A capacidade média de produção por pé é de 4 litros, o que totalizaria 600 litros ao ano. Trata-se de pouco, muito pouco para fins comerciais, mas o suficiente para a família e para presentear os amigos.”


Acima, o casal investidor entrevistado: um brinde a estes brasileiros que estão construindo uma indústria da qual ainda vamos nos orgulhar.

(*) Depoimento e fotos de Ricardo Raupp Ruschel, jurista, professor e enófilo (e irmão deste editor), e Monica Esteve Ruschel, artista plástica especializada em restauração de cerâmica, produtores iniciantes de azeite de oliva na região da campanha do Rio Grande do Sul. 



quarta-feira, 28 de maio de 2014

Conheça os queijos Terrincho e Azeitão, deliciosas especialidades portuguesas - e os belos lugares onde eles são feitos, como Vila Nova de Foz Côa



Por Rogerio Ruschel e João Monge Ferreira (*)

Portugal está definitivamente na moda em termos de turismo, investimentos, cultura e qualidade de vida. In Vino Viajas tem mostrado que publicações gerais ou especializadas como Guia Fodor’s, Wine Enthusiast, The Guardian, CNN e portais de turismo de grande importância como Trip Advisors’s sugerem que visitemos Portugal antes que os preços subam – o que será inevitável. Na foto de abertura você pode conhecer a área rural de Vila Nova de Foz Côa em foto do blog descobrirfozcoa.blogspot.pt e abaixo, a ponte Torre Dona Chama vista de Mirandela, dois concelhos portugueses onde é fabricado o queijo Terrincho.  Aliás, Vila Nova de Foz Côa é chamada de Capital do Douro Superior, e entre 30/05 e 01/06 vai realizar mais uma edição do Festival do Vinho do Douro Superior. Quando 3.000 garrafas de vinhos dos oito concelhos da região vão ser degustadas ao longo das dezoito horas da Feira de Vinhos e Sabores.



Os vinhos portugueses são excepcionais – e In Vino Viajas tem divulgado isso; a culinária é excitante e todos os turistas são muito bem recebidos, especialmente brasileiros. Em 2015 uma cidade portuguesa será a Capital do Turismo de Vinho da Europa (em 2014 é a espanhola Jerez de la Frontera). Ou seja: o turista é muito bem tratado em Portugal. E é um pais bonito: na foto abaixo, vista parcial de Sesimbra, um dos concelhos onde são fabricados os queijos de Azeitão.



Portugal tem dezenas de produtos típicos que são protegidos por denominações de origem e de qualidade, entre os quais queijos. Então como editor deste blog faço mais um brinde aos amigos de Portugal e publico abaixo informações do site português “João Sem Vinho”, nosso parceiro no além’mar, sobre dois queijos portugueses. Com a palavra João Monge Ferreira. (Abaixo, o ambiente rural de Mogadouro, terra do queijo Terrincho).



Por João Monge Ferreira (*)

Queijo Terrincho


O Terrincho (identidade com DOP – Denominação de Origem Protegida) é um queijo curado, de pasta semi-mole, branca e uniforme, ligeiramente untuosa, obtido por esgotamento lento da coalhada, após a coagulação do leite cru e puro, por acção de coalho animal. A maturação é feita por um período mínimo de 30 dias, que se pode estender até um mínimo de 90, obtendo-se assim a variante "Velho".

Ambos têm a forma de cilindro baixo, regular, com algum abaulamento lateral nas faces, sem bordos definidos e diâmetro a oscilar entre os 13 e os 20 centímetros. O peso varia entre 600 e 1200 gramas. O Queijo Terrincho possui um sabor suave, limpo e muito característico, sendo mais forte na variedade "Velho" (veja abaixo). Também conhecido como "Queijo de Freixo", é fabricado com leite de ovelha da raça Churra da Terra Quente.



A área geográfica de produção abrange os concelhos de Mogadouro, Alfândega da Fé, Moncorvo, Freixo de Espada à Cinta, Mirandela, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães, Vila Nova de Foz Côa – que você pode conhecer na foto abaixo. O queijo Terrincho também é produzido em algumas freguesias dos concelhos de Macedo de Cavaleiros, São João da Pesqueira, Valpaços, Meda e Figueira de Castelo Rodrigo.

Queijo de Azeitão
queijo de Azeitão é produzido a partir de leite de ovelha em alguns concelhos do distrito de Setúbal, particularmente em Palmela, Sesimbra e Azeitão. São queijos de forma cilíndrica e paredes abauladas, com cerca 5 cm de altura e 8 cm de diâmetro, pesando em média 250 g. 



É vendido com cerca 20 dias de cura, normalmente envolvido em papel «vegetal». A casca é fina e macia de cor amarelo-palha. É um queijo de pasta mole, com alguns olhos, de cor amarelo-ráfia, muito «amanteigado», de sabor e aroma semelhante ao queijo da Serra, embora seja um pouco mais ácido (característico).



Aliás, se você estiver em Setubal, vale a pena visitar o Museu do Queijo, na Vila Nogueira do Azeitão, estrada que liga a cidade à Palmela. É muito interessante, onde você pode também provar vinhos locais como os famosos moscatéis de Setubal.

(*) Rogerio Ruschel é brasileiro, jornalista, enófilo e editor de In Vino Viajas. João Monge Ferreira é português, Editor do blog “João Sem Vinho”, Diretor Geral da organização Pequenos Produtores Portugueses, Novos Rurais/Farming Culture e EcoCasa Portuguesa. Fonte: Blog João Sem Terra - http://joaosemvinho.blogspot.com.br




segunda-feira, 26 de maio de 2014

A revolução das MicroVinyas de Alicante, Espanha: Juan Cascant explica como é possível fazer vinhos premiados em vinhedos minúsculos e sustentáveis


Por Rogerio Ruschel (*)
Em um post anterior apresentei a meus leitores o Projeto MicroVinya, de Alicante, Espanha, uma demonstração de que é econômicamente viável produzir vinhos com pontuação de primeira classe e com valores ecológica e socialmente superiores, em áreas de minifundios, a partir de vinhedos antigos recuperados. Como isso parece impossível, In Vino Viajas entrevistou Juan Cascant, um dos artífices desta revolução, para explicar como foi e vem sendo feito.

Hoje os vinhedos recebem visitas de compradores, jornalistas, potenciais produtores e curiosos em geral (foto acima), e os vinhos “revolucionários” são procurados como vinhos “cult”, estão viabilizando roteiros de enoturismo são temas de interesse acadêmico de quatro universidades (Murcia, Alicante, Valencia y Castellón ) e atraem lideranças sociais e do trade vinícola mundial, ganhando prêmios. Vale a pena conhecer melhor esta história - veja no fim do texto como acessá-la.

Juan Cascant poderia estar em qualquer grande cidade da Espanha ou da Europa trabalhando com prédios e ganhando dinheiro. Mas está em Muro de Alcoy, onde nasceu, está sempre atarefado - e como todo revolucionário, sempre fazendo coisas mais difíceis como convencer jovens universitários a voltar para a terra natal e investir seu tempo, dinheiro e futuro recuperando vinhedos abandonados por familiares. Ou como convencer um viticultor de pequeno porte a não utilizar produtos químicos nos vinhedos, mesmo sabendo que ele vai ter uma produção menor e mais custosa. Ou ainda como tornar real e factível do ponto de vista dos negócios, o modelo produtivo de minifúndios sustentáveis, um conceito que luta contra a maré da economia do capitalismo selvagem que só sobrevive quando funciona em regime de escala.

Leia a seguir a entrevista com Cascant em espanhol.
In Vino Viajas: Por favor, haga un breve resumen de su carrera con los vinos, desde 2003 hasta ahora. ¿Creció y vive adonde? ¿Su familia tiene experiencia en la agricultura? ¿Es usted un arquitecto y también trabaja con esto?

Cascant: Soy un vecino de Muro de Alcoy en Alicante, me dedicaba a mi trabajo en el estudio de arquitectura donde he estado mas de 25 años. Tengo muchas inquietudes desde siempre y por lo general siempre vinculadas a la cratividad y la consecución de una sociedad mejor desde abajo, desde lo sencillo. Continúo viviendo en Muro de Alcoy, donde nací y nunca me he dedicado a la agricultura como ahora. La mayoría de la gente aqui tiene la agricultura como la segunda o tercera actividad; la experiecia agricola forma parte de todos aunque pocas personas vivan al 100% de esta actividad. En 2003, junto con un amigo,
Toni Boronat, iniciamos esta aventura con la simple elaboración de vinos para el propio consumo y disfrute. Cuando empezamos teníamos todo en el subconsciente pero no nos podíamos ni imaginar el camino que en 10 años hemos recorrido.

In Vino Viajas: ¿Qué tipos de uvas que han sido rescatadas o plantados ? ¿Qué tipos de vinos son actualmente producidos por las pequeñas viticultores? ¿Hay algún programa de  mejora técnica de las uvas?

Cascant: El concepto de recuperación nos ha venido por el camino; comenzamos con las uvas Garnacha y Monastrell y despues introdujimos la G. Tintorera, la Bonicaire y la Shirá en cuanto negras; y Malvasía, Meseguera, Macabeo, Verdil y Garnacha Blanca en cuanto a las blancas. En todos los casos existen viñas recuperadas y viñas plantadas de nuevo. Estamos llegando a la posibilidad de elaborar vinos monovarietales pues la experiencia y el equilibrio de los Microviñedos ya nos lo permite, pero hasta ahora todos los vinos se han elaborado mediante coupage (blend). Existe un programa o dirección o tutelaje de la conducción de las viñas; bien por nosotros o por los mismos propietarios las Microviñas llevan una dirección y un seguimiento con el objeto de adaptar las caracteristicas de cada campo para lograr la máxima calidad y especificidad.

In Vino Viajas: ¿Cómo surgió la idea de hacer un viñedo con 28 pequeñas granjas? ¿Debido a qué las propiedades fueron abandonadas, y cuando?
Cascant: Como he comentado anteriormente la agricultura no es la actividad principal, en nuestra zona la mayoría tiene un minifundio heredado que lo trabaja por cuestiones románticas. Antes solucionaba el autoabastecimiento de primeras necesidades de trigo, aceite, legumbres y vino, pero ahora esto está en declive. El modelo economico actual ha hecho que no miremos al campo y que prefiramos “pasear” por el centro comercial en lugar de trabajar la tierra. Vamos al shoppings, tomamos el coche, vamos al bar, ... y si visitamos nuestra tierra como turistas que visitan las de otras tierras. El abandono es progresivo, y con él el paisaje y su biodiversidad. El abandono ha sido debido mayoritariamente a la no valorización de la obtención de productos propios - la gente prefiere ir al supermercado y tomarlo de la estantería.

In Vino Viajas: ¿La tierra no es un activo valioso en España ¿Cuánto cuesta una media hectárea de viña en Alicante hoy?
Cascant: La tierra es un activo valioso en todos los sentidos, pero sobre todo últimamente por que representaba una posibilidad para el desarrollo urbanístico, no sobre la agricultura. El coste de una media hectarea hoy en Alicante varía en función del aprovechamiento urbanístico que pueda tener, pero en el caso de las Microvinyas es un coste perfectamente accesibe que puede estar alrededor de unos tres euros por metro cuadrado. En función de su situación y de su superficie y otros factores este precio puede variar en positivo o en negativo. Una media hectárea podria estar sobre los 15.000 €. 

In Vino Viajas: ¿La situación era muy grave en Alicante o diferente de otras regiones de España?
Cascant: Alicante ha abandonado la tierra y se ha sumido en iniciativas turisticas, industriales, de comercio y de edificación. La situación es seria como en todo el país pero se afronta relativamente bien debido al tiempo de bonanza pasado. Alicante era tierra de vinos, probablemente la tierra del origen de los vinos, pero en el mediterráneo no le supimos dar el valor adecuado y lo dejamos perder, por ello ahora, cuando aplicamos conocimiento y voluntad encontramos una tierra que agradece este esfuerzo. Están por descubrir vinos míticos salidos de la tierra en que antiguamente la vid era la reina.

In Vino Viajas: ¿Cómo surgió la idea de Microvinyas ? ¿Y cómo está evolucionando ?  Cuantas bodegas todavia participan hoy del sello Microvinyas ? 
Cascant: Microvinya surgió como herramienta del Celler la Muntanya para lograr tener uva de manos de terceros. Esta acción desencadenó todo el proyecto social, cultural y medioambiental que ha llevado a la generación de la marca. En este momento todavía existen pocas bodegas que participan de la marca. No estamos difundiendo sin sentido y comenzamos a atender a quienes se precupan por el valor o por el sentido ético. El jornal británico The Guardian nos ayudó a interpretar otra visión que se está construyendo y que consiste en trasformar a los Microviñeros en bodegueros asociados, tanto si son de aquí como de otro lugar; la condición es SER PROPIETARIO de una Microvinya. 

In Vino Viajas: ¿Microvinyas es una certificación formal como las certificaciones convencionales (FSC) o solamente la adesióin a cinco principios ecológicos?
Cascant: Microvinya no es todavía una certificación formal, aunque 5 departamentos de distintas universidades me empujan a que lo sea. Soy yo quien se resiste a no soltar, todavia, la rienda del caballo hasta que no esté bien domado y preparado. La adhesión a los 5 puntos pasa por el curso que estamos preparando y por la intervención de las universidades que lo avalarán. Se trata de un sello Ético; la propiedad del cual es de Emel2003 y de momento la certificación está basada en la observación y la confianza, pero en breve tendrá, como he dicho el aval de las universidades de Murcia, Alicante, Valencia y Castellón.
In Vino Viajas continuará acompanhando o trabalho e divulgando o sucesso das Microvinyas, a quem propõe um brinde de admiração: tim-tim, Juan Cascant, Toni Boronat e seus amigos. 
Para ler o primeiro post desta série acesse http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/05/microvinya-revolucao-dos-minifundios.html 
(*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo e gosta de pessoas que constroem seu próprio futuro – e fazendo o bem.


sexta-feira, 23 de maio de 2014

Azeite de oliva “made in Brazil”: produção ainda pequena, mas que já está competindo em qualidade com produtores europeus


Por Rogerio Ruschel (*)

Em outubro de 2013 a Proteste - Associação de Consumidores testou 19 marcas de azeite extra-virgem portugueses, espanhóis e francesas vendidas no mercado brasileiro.  As marcas são tantas que é uma escolha difícil para o consumidor no supermercado. Várias delas foram identificados como fraudadas e o produto melhor avaliado de todos, acredite, foi o único brasileiro no grupo - veja detalhes mais adiante. Para quem acompanha o setor, isso não é surpresa, porque o Brasil é um produtor ainda minúsculo, mas estamos começando a competir com os importados – e o espaço para empreendedores entrarem no negócio é muito grande, veja a seguir. 

Azeite de oliva é um alimento que acompanha o homem há milênios. Temos registros de que a azeitona apareceu na Ásia Menor e que seu cultivo remonta ao período helênico, iniciado provavelmente na ilha de Creta em 3.500 a.C, o que daria cerca de 5.500 anos de experiência com a fruta e o azeite. Na foto abaixo um “frantoi” centenário que fotografei na Sicilia.


Ao longo dos séculos a azeitona tem sido utilizada como alimento e o azeite, porque tem longa durabilidade, podia viajar nos barcos em longas viagens. O azeite também foi usado como remédio, fonte de energia e protetor contra o frio. As oliveiras são uma das plantas citadas na Bíblia Sagrada, e azeites eram utilizados em diversos rituais religiosos no mundo árabe. Na Mesopotâmia era usado até mesmo como ferramenta de guerra: nas batalhas os soldados se besuntavam com azeite para ser mais difícil serem agarrados!


Da Grécia a oliveira foi introduzida na Península Ibérica durante o domínio árabe. Na Sicilia, Itália, conheci e fotografei uma oliveira que diziam ter mais de 8 séculos de idade, quase contemporânea dos templos em ruínas ao seu lado… - veja a foto abaixo.


Da Grécia e também pelas mãos dos árabes, a oliveira acabou encontrando solo propício em Portugal (hoje o segundo produtor mundial), se alastrou para a toda a península ibérica e da Espanha (hoje o primeiro produtor mundial) veio com os conquistadores para a Argentina e Chile, na América do Sul. E da Argentina chegou ao Brasil uns 20 anos atrás, entrando pelo Rio Grande do Sul, região do Brasil que tem o melhor clima e terroir para azeitonas e que se tornou o principal pólo produtor do pais. É no Rio Grande do Sul que fica a principal entidade que congrega e apóia produtores brasileiros - a Associação de Olivicultores de Caçapava do Sul – AOC (http://www.olivicultura-rs.com.br ). Veja no mapa abaixo os melhores climas para oliveiras no,mundo.


É também da região central do Rio Grande do Sul, em Cachoeira do Sul, que vem o melhor exemplo de que azeite de oliva no Brasil tem ótimo potencial para quem queiser entrar no ramo. O produtor rural José Aued (que é engenheiro) começou a cultivar oliveiras em 2005 e em 2010 produziu a primeira safra com as variedades arbequina e arbosana, com apenas 800 litros. Já em 2011 a produção passou para 6 mil litros e em 2012 foram 22 mil litros, tudo isso em apenas 12 hectares, que agora já são 26 hectares. E estão produzindo mudas para vender para terceiros - veja na foto abaixo. 


O azeite dos Aued já está à venda em oito Estados com a marca Olivas do Sul e recentemente foi a única marca de azeite de oliva fabricado no Brasil identificado realmente como extra-virgem em uma pesquisa da Proteste – lembramos o teste a seguir. E isso acontece porque, como explica Enilton Coutinho, agrônomo da Empresa Brasileira de Pesquisa e Extensão Agropecuária (Embrapa), “Existe um mercado totalmente aberto para o azeite. O Brasil importa 100% deste produto, ele faz bem à saúde e apresenta uma rentabilidade interessante. A renda líquida chega a aproximadamente R$ 20 mil por hectare, então é um bom atrativo para os investidores”.



Nesta pesquisa da Proteste - Associação de Consumidores que testou 19 marcas de azeite extra-virgem portugueses, espanhóis e francesas vendidas no mercado brasileiro, apenas oito marcas apresentaram qualidade de extravirgem e outros sete (Borges, Carbonell, Beirão, Gallo, La Espanhola, Pramesa e Serrata) são apenas azeites virgens. Dos quatro testes que a entidade já realizou com esse produto em mais de dois anos, este realizado em outubro de 2013 foi o que encontrou o maior número de fraudes contra o consumidor (será porque aumenta ada vez mais a venda destes produtos e a cada dia chegam novas marcas ao mercado?) Mas o mais importante é que a marca de azeite de oliva com melhores indicadores foi a brasileira Olivas do Sul, dos Aued, que tem apenas tres anos de mercado.... Veja abaixo o quadro-resumo da revista.

O mercado de azeites no Brasil apresenta vendas de aproximadamente 40.000 t/ano, similar à Austrália e superior ao Canadá; somos o 10o. maior consumidor no mundo. A produção mundial foi de 3,6 milhões de toneladas de azeite em 2013, e o Brasil contribuiu com apenas 600 toneladas – mas estamos aprendendo rápido. Os brasileiros estão começando a conhecer e apreciar os diversos tipos de azeites provenientes principalmente de Portugal, Itália, Espanha e Argentina, mas também da França e da Grécia - e em alguns anos talvez não precisemos mais importar o produto. Sim, porque estamos recém-começando, mas evoluímos muito no cultivo de oliveiras e aprendemos rápido a fazer azeites de qualidade. Os gráficos abaixo mostram uma série histórica de consumo de azeites e azeitonas nos últimos 20 anos.



Para oferecer uma informação adequada a seus leitores, In Vino Viajas entrevistou um pequeno produtor do Rio Grande do Sul - na verdade um casal de produtores, Ricardo e Monica Ruschel, ele um jurista e ela uma professora de arte, que são um exemplo típico de um perfil de investidor neste setor no Brasil. Como na Itália, Portugal, Grécia e Espanha, os pequenos produtores – geralmente famílias – podem não ser os grandes exportadores, mas são eles que ajudam a manter a produção de azeites com personalidade, exatamente como acontece com vinhos. Veja a continuação desta história em outro post aqui em breve, quando vamos contar a história de quem está acreditando (e já vendo retorno) em transformar o Brasil em um produtor de azeitonas e azeite de oliva.

(*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo e gosta muito de azeites de qualidade em culinária de qualidade