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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Harmonizando cores na Croácia: o tinto do vinho Plavac Malib com o verde da natureza, o vermelho do por-do-sol e o azul do Adriático


Por Rogerio Ruschel (*)
Com quase 2.000 anos de história, os vinhos da Croácia são produzidos tanto com uvas internacionais (cabernet, pinot noir, sauvignon, merlot, etc), quanto com a Plavac Malib, uma uva autóctone que dá origem a vinhos tintos potentes e concentrados. Plavac Malib (que em Croata quer dizer "uva preta e pequena") é um cruzamento entre duas castas tintas: a ancestral Zinfandel, conhecida na Europa como Primitiva e na Croácia como Crljenak Kaštelanski (cacho na foto abaixo), que deu muito certo na Califórnia, Estados Unidos, cruzada com a uva Dobricic, que se imagina ser da costa dalmácia da Croácia, talvez da ilha Solta,  região da foto acima.

Hoje os vinhedos ocupam cerca de 54.000 hectares. Embora o forte sejam vinhos tintos, alguns brancos muito frescos e agradáveis também fazem parte do portfólio de vinhos do país. Veja abaixo foto dos vinhedos de Starigradsko, tombados como Patrimônio Universal da Humanidade pela Unesco, preservados como seriam no tempo dos gregos há 2.000 anos.

Zagreb, com quase 1 milhão de habitantes é a capital (abaixo), mas a cidade mais conhecida é Dubrovnik (fotos abaixo), tanto porque fica no litoral, no “caminho” dos grandes roteiros de turismo internacional de navios de cruzeiro, quanto pelo fato de que Dubrovnik (ao lado de Sibenik e Zadar) serem cidades históricas.


O engenheiro Horácio esteve lá e relata o que vivenciou. Explico. O engenheiro Horácio Barros, de Belo Horizonte, se aposentou e com seus filhos Pedro e Natália está há 18 meses vivendo a Wine World Adventure, uma volta ao mundo do vinho em 170 regiões vinícolas de 24 países, onde percorrerá 100.000 kms em um motor-home (abaixo, o trailer estacionado na Croácia).


In Vino Viajas fez uma parceria exclusiva com Wine World Adventure - a maior enovolta do mundo - para que nossos leitores possam conhecer, direto da fonte, alguns dos melhores destinos de enoturismo visitados pela equipe de Horácio. Este é o quarto post que publicamos, veja a seguir.
Por Horácio Barros (*)

“Foi com ansiedade que chegamos na costa da Croácia. Finalmente o verão europeu havia começado, e nada mais justo que uns dias nas mais famosas praias da Europa, depois de ter pegado tantos dias de frio intenso.” (Veja abaixo a localização da Croácia, no Mar Adriático, e o litoral recortado).
“A Croácia é um dos países mais jovens do mundo, pois obteve sua independência somente em 1991, após a separação da antiga Iugoslávia. Vem apresentando importante crescimento econômico nos últimos anos, reforçado pelo grande número de turistas que vêm descobrindo atrações culturais (como o Museu Nacional da Croácia, em Zagreb, veja abaixo) as paradisíacas praias croatas, a um preço muito mais atrativo do que as famosas praias gregas e provençais, e foi inserida recentemente na União Européia. Este país é a bola da vez do turismo internacional.”
 
“A beleza natural do país é impressionante, com sua costa azul turquesa de águas cristalinas, do mar Adriático.”

“Percorremos com nosso motorhome de norte ao sul pela costa, (cerca de 1800 km) desde Rijeka, passando por Zadar, Split, Brela e Dubrovnik, vislumbrando mais de 1200 ilhas e centenas de navios turísticos, iates, barcos e veleiros, como um formigueiro em alto mar, encalhados nas infinitas enseadas pitorescas de um gritante azul-esverdeado. A maioria das praias são de pedras ao invés de areia, mas são lindas.”

“Começamos por Zadar, uma importante cidade litorânea, repleta de muralhas e edificações medievais, muito cobiçada por turistas de todo o mundo. Ao seu redor, estão localizadas algumas das mais belas praias da Croácia, e é possível ir e voltar no mesmo dia. Além disso, possui muita atração cultural, e um pôr-do-sol de tirar o fôlego!” (veja abaixo)
“Passamos rapidamento por Split, uma cidade mais urbana e com menos infra-estrutura para motorhomes, mas muito bom também pra quem vai ficar em hotel. Descemos então até Brela, uma praia super charmosa, repleta de bares, restaurantes e muita gente bonita.” (Abaixo, uma das ilhas do litoral).


“Depois de uma arrancada de quase 1000 km, chegamos à última cidade croata, a famosa Dubrovonick. Possui belas praias, e um importante centro histórico classificada como patrimônio da Humanidade pela Unesco.” (Muralhas de Dubrovnic, abaixo).


Post originalmente publicado dia 01/10/2013 no site do projeto Wine World Adventure. Saiba mais em http://www.wineworldadventure.com/
Fotos de Horácio Barros ou de serviços de turismo.

(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas, jornalista e ainda não conhece a Croácia.

sábado, 26 de outubro de 2013

Tempranillos, castelos, museus e moinhos de vento: delícias e aventuras nos Caminos Del Vino em Castilla-La Mancha, Espanha


Por Rogerio Ruschel (*)
Como sou seu amigo, vou sugerir uma coisa: se um dia você tiver a oportunidade de visitar Castilla-La Mancha, liberte o Don Quixote que tem dentro de você. Castilla-La Mancha - a terra de Don Quixote e seu escudeiro Sancho Pança, abaixo - parece que só revela integralmente seu imenso patrimônio cultural, riqueza popular e paisagens se você tiver a coragem de passar um tempinho meio “sem rumo”, se você for um quixotesco sonhador.

Cenas inesquecíveis vão surpreender você, como vêm surpreendendo os Sanchos Panças desde que este “nasceu” com Quixote em 1605, pela caneta de Miguel de Cervantes, tais como um por-de-sol inesquecível com moinhos de vento na cidade de Mota del Cuervo, Provincia de Cuenca (foto bem acima) ou na chegada à pequena cidade de Bogarra (foto abaixo - e acredite: sem retoques!) na Provincia de Albacete, que tem 1.009 moradores e forte influência árabe. 

Como se isso não fosse suficiente, Castilla-La Mancha é o território que tem o maior plantio de uvas do mundo, com cerca de 200.000 hectares de vinhedos. A região é responsável por uma produção média anual de 21 milhões de hectolitros de vinho, cerca de 53% da produção espanhola de vinhos. Na verdade a região é o celeiro agrícola da Espanha - é também a maior produtora de cevada, trigo e outros produtos espanhóis. Neste ambiente você poderá encontrar cenas belissimas como esta curva de estrada, abaixo, perto da comunidade de Maldonado Jorquera, com apenas 450 moradores, também na Provincia de Albacete.

Estes 200.000 hectares de vinhedos estão na região central da Espanha e da Peninsula Ibérica distribuídos entre as Provincias de Albacete, Ciudad Real, Cuenca, Guadalajara e Toledo. Todo este vinho está organizado em nove Denominações de Origem (D.O. - Valdepeñas, Méntrida, La Mancha, Manchuela, Jumilla, Mondéjar, Uclés, Ribera del Júcar y Almansa), uma Indicação Geográfica Protegida (I.G.P. - Vinos de la Tierra de Castilla) e uma marca colectiva (Cueva). Veja esta região bem no centro do mapa abaixo, perto de Madrid.

 
Além das nove D.O.s e da I.G.P. existem oito parcelas vinícolas - em espanhol “pagos”. Explico: a legislação espanhola permite que o nome de um “pago vitícola”, que é a relação da finca (a parte agrícola) com a bodega (a parte industrial) seja considerada uma D.O. se forem respeitadas determinadas condições, entre as quais um alto grau de qualidade. De qualquer maneira, com ou sem certificação de origem, os parreiras convivem com paisagens belíssimas, como mostra esta foto primaveril de Las Pedroñeras, em Cuenca.

Os vinhos são produzidos há milhares de anos com uvas regionais, mas também com variedades internacionais; as castas aceitas pela D.O. La Mancha, por exemplo, são a Tempranillo (ou Cenibell), Garnacha e Moravia e as clássicas Cabernet Sauvignon, Merlot e Suyrah (tintas) e Airén e Macabeo com Chardonnay e Sauvignon Blanc entre as uvas brancas. Já para a D.O. Valdepeñas são aceitas também as uvas Verdejo, Moscatel e Petir Verdot, e para a D.O. Manchuela são aceitas também uvas regionais como Bobal, Monastrell, Moravia Dulce e Albillo. (Abaixo, o Parque Arqueológico de Segóbriga Saelices, em Cuenca, considerada uma das cidades romanas mais bem conservadas da Espanha).



Toledo é a capital de Castilla-La Mancha e é também talvez a mais turística; chamada de cidade das tres culturas pela coexistência de patrimônio arquitetônico de judeus, cristãos e muçulmanos, foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO en 1986.


Outra cidade histórica que também é Patrimônio da Humanidade (desde 1996) é a fortificada Cuenca, construída pelos mouros para defender o território do Califado de Córdoba.


Por estas e outras razões, a região de Castilla-La Mancha recebe muitos visitantes: em 2010 foram mais de 11,4 milhões de turistas, dos quais cerca de 2 milhões eram estrangeiros. Destes turistas 63,5% são atraidos por Turismo Patrimonial e Cultural, 50,5% por Turismo de Natureza e Rural e cerca de 37,6% tem como foco principal o Turismo Enogastronômico. Existem duas grandes Rotas de Vinho, formadas por muitas outras: a Rota “Caminos del Vino” e a “Rota de Jumilla”, que adentra também a região da Múrcia. O mosteiro de Uclés, apelidado de “El Escorial de la Mancha" (abaixo), é uma das atrações da região.

A Rota Caminos del Vino inclui centenas de bodegas em oito comunidades (Alcázar de San Juan – local onde foi tirada a foto noturna dos moinhos de vento, abaixo - Pedro Muñoz, Socuéllamos, Tomelloso, Villarrobledo, Campo de Criptana, El Toboso e San Clemente). A Rota e a região tem cultura vitivinícola de milhares de anos e um patrimonio artístico e paisagístico com identidade própria: longos campos que parecem não ter fim, cobertos por vinhedos e outros plantios agricolas, ponteado por alguns bosques e parques naturais. A outra rota de vinhos, a “Rota de Jumilla” fica a noroeste da região de Múrcia, encravada entre la Mancha, Andalucía e Valencia. 

Embora o grande movimento turístico espanhol (e europeu, de maneira geral) seja no verão (junho/julho/agosto) e o maior movimento do turismo relacionado ao vinho aconteça durante a vindima (setembro/outubro), monumentos e atrações turisticas estão disponíveis o ano inteiro. Entre os museus, por exemplo, você pode visitar o Museu do Vino de Valdepeñas, único deste tipo em Castilla-La Mancha; o Museu da Cuchillería, em Albacete; o Museu López Villaseñor em Ciudad Real; prédios com forte herança árabe em Guadalajara e Cuenca e quase que uma cidade inteira em Toledo, com destaque para as colossais igrejas, o Museo de Santa Cruz, o Museu Nacional de Arte Hispanojudío y Sefardí e o Museo del Greco. Para encerrar, abaixo uma foto do Parque Nacional de las Tablas, em Ciudad Real.

Pois é: visto isso proponho um brinde à liberdade do sonhador Don Quixote que está dentro de você. E de mim.
(*) Rogerio Ruschel é jornalista e enófilo e já soltou seu Don Quixote em Toledo e em uma parte de Castilla-La Mancha. As fotos foram obtidas em serviços de divulgação de órgãos espanhóis oficiais.






 


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Um brinde com Gewurtztraminer no Haut-Koenigsbourg, o espetacular castelo do duque Zarolho na Rota do Vinho da Alsácia


Por Rogerio Ruschel (*)
No alto de um vale fértil da Alsácia, no nordeste da França, a menos de 40 quilometros da fronteira com a Alemanha, próximo da cidade de Sélestat, debruçada sobre o Rio Reno e a Rota do Vinho, se ergue majestosa a montanha do Stophanberch, com 755 metros.

Bem no alto desta montanha Frederico de Hohenstaufen, duque da Suábia, apelidado de “O Zarolho”, construiu um pequeno castelo no século XI para ficar na encruzilhada de duas importantes rotas comerciais da época: as rotas do trigo e do vinho (de Norte para Sul) e do sal e da prata (de Oeste para Leste).

Pois o castelinho do duque Zarolho foi ganhando uns "puxadinhos" e é hoje é um castelão - o Castelo Haut-Koenigsbourg, um dos mais populares monumentos da França, recebendo cerca de 600 mil visitantes por ano - e uma das grandes atrações da parte Norte da Rota dos Vinhos da Alsácia. Fica no vilarejo de Orschwiller e tem uma história de 800 anos: o primeiro registro é de 1146, com o nome de Castelo Castrum Estuphin; foi propriedade dos Habsburgos e dos Tierstein; foi pilhado e incendiado durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e abandonado em ruínas por mais de dois séculos, até ser restaurado pelo Imperador alemão Guilherme II quando a Alsácia foi anexada à Alemanha em 1871.

Já restaurado, finalmente passou a ser propriedade do governo francês em 1919, com o Tratado de Versalhes. Hoje é um dos mais imponentes castelos europeus, um modelo internacional de restauração e de operação turística com sustentabilidade.

Em seus tres pisos e no jardim medieval de inverno pode-se fazer uma bela viagem no tempo. A arquitetura e o modo construtivo são interessantes até mesmo para quem não é arquiteto, com paredes gigantescas, escadas sinuosas, estruturas de madeira criativas, portas enormes (algumas originais), pequenas janelas com vista surpreendente para os vinhedos do vale, seteiras e amuradas, corredores estreitos, pequenas passagens aéreas, portinhas minúsculas para passagens subterrâneas (veja fotos abaixo) tudo isso com pinturas, esculturas e outras manifestações artísticas.

Operando como um museu aberto, permite que o turista veja um pouco da vida medieval através da mostra do mobiliário de quartos e salas – com belíssimos armários, baús, fogões e aquecedores de cerâmica; o trabalho de ferreiros e cozinheiros e o arsenal - uma coleção de armas, armaduras, escudos, espadas e lanças. Na alta temporada o turista pode até mesmo viver a vida medieval, circulando entre atores que representam pequenos esquetes dentro do castelo!

Para relaxar tem a tradicional lojinha de souvenirs (com livros, brinquedos, maquetes, mapas, guias, etc.), uma lanchonete, um restaurante e um salão de chá para grupos. Durante o verão e primavera uma varanda ligada ao restaurante fica aberta oferecendo uma vista sensacional dos vales com vinhedos da Alsácia. Estive nesse restaurante com minha filha e bebemos um glorioso crémant da Alsácia, um espumante que é uma das tres DOCs (Denominações de Origem Controlada) da região vinícola, harmonizado com queijinhos franceses locais.

O castelo inspira artistas, músicos e escritores. Dois filmes foram rodados lá: o primeiro, no fim dos anos 1930 por Jean Renoir, chamado “A Grande Ilusão”, com foco pacifista, considerado um clássico pelos franceses; e em 1956 o diretor Jacques Becker filmou "As aventuras de Arsène Lupin”, um personagem francês muito divertido. Dizem também que o castelo inspirou John Howe, o designer de cenários da trilogia “O Senhor dos Anéis” de Peter Jackson e que o diretor japones Hayao Myasaki teve ali a inspiração principal para sua premiada animação “Howl’s Moving Castle’. De qualquer maneira é um lugar de cinema, mesmo!

O castelo fica bem no coração da Rota do Vinho da Alsácia, não deixe de visitar. O estacionamento é um pouco longe e você vai ter que encarar uma ladeira até o portão de entrada, a fila que se forma e depois as centenas de degraus por todo o castelo. Mas vale a pena porque afinal é um castelo medieval, e um dos mais bem conservados do mundo! E se você se lembrar das minhas dicas, sente na varanda do restaurante e peça um crèmant da Alsácia ou um delicioso Gewurtztraminer – tim-tim.
Saiba mais sobre a Alsácia em  http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/12/alsacia-um-convite-beleza-e-ao-sabor.html 
e em 
http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/01/os-vinhos-da-alsacia-uma-arte-de-2000.html
 

(*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo, percorreu uma parte da Rota do Vinho da Alsácia e quer voltar para fazer tudo de novo.