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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A música nos vinhedos da Toscana e nos pinheiros de Canela

 

Vinhedo na Toscana

Por Rogerio Ruschel (*)

Na propriedade Il Paradiso di Frassina, a menos de 5 quilometros de Montalcino, na provincia de Siena, na mítica e mágica Toscana italiana, onde se produz alguns dos vinhos mais famosos do mundo, como o Brunello di Montalcino e Chiantis, o ex-advogado Giancarlo Cignozzi vem obtendo sucesso científico e popular na produção de uvas tocando música clássica nos vinhedos. 


Visual toscano

O processo, denominado “produção de vinho fonobiológico” no livro “100 Initiatives that are greening the world” publicado durante a Rio+20 pela Eubra – Euro-Brazilian Sustainable Development Council, UN-Habitat (a agência de habitação das Nações Unidas) e pela Bright Green Cities, deve ser o primeiro do mundo e já tem resultados positivos comprovados científicamente.


Poster de evento em Montalcino

Segundo o professor Stefano Mancuso, pesquisador da inteligência das plantas da Universidade de Florença, a vibração estimula a produção de polifenóis, substâncias responsáveis pelo gosto agradável e que dão ao vinho aquela característica saudável se consumido em pequenas doses, e além disso a música reduz insetos agressivos e parasitas. Mais recentemente, a Universidade de Pisa iniciou outras pesquisas para aprofundar o assunto.
Siena

O produtor Giancarlo Cignozzi disse que decidiu fazer isso "depois de uma viagem à Amazônia, quando um pajé disse que a minha vida seria feita de vinho e música”.  Segundo ele, os vinhedos crescem com música calma, só com cordas e piano – especialmente de Mozart - durante 24 horas por dia. Músicas muito barulhentas poderiam estressar as plantas; creio, então, que concertos de Stravinsky ou a Abertura Solene Para o Ano de 1812, conhecida como Abertura 1812, composta por Tchaikovsky e que utiliza tiros de canhões, nem pensar! Para adensar seu trabalho, os vinhedos da Paradiso di Frassina também adotam métodos orgânicos, certificados pela Bios em abril deste ano.
Rua de Montalcino

Cignozzi começou seu trabalho em 1999, transformando uma antiga propriedade rural na atual e badalada Azienda Agricola Il Paradiso di Frassina, que produz um pouco de azeites finos e cerca de 50.000 garrafas de vinhos de alta qualidade por ano (ainda sem distribuidor próprio no Brasil). Autor do livro “Carlo Cignozzi: l’uomo que sussurra ale vigne”, o ex-advogado agora recolhe dividendos por ser, segundo o livro da Eubra, “um dos 100 mais importantes casos mundiais, nos últimos dez anos, em desenvolvimento urbano, tecnologias e energias limpas, envolvido na promoção da economia verde”.
 Vista de Montalcino

Canela saiu na frente

Se a Il Paradiso di Frassina é pioneira na produção de vinho fonobiológico, não é pioneira na iniciativa de associar música e plantas para deleite das plantas e pessoas. Isso já havia sido feito em Canela, no Rio Grande do Sul e eu documentei. Em 1995 (4 anos antes de Cignozzi começar seu trabalho na Toscana), Gilberto Travi, então secretário de turismo da cidade de Canela, na serra gaúcha, fez a mesma coisa em um dos parques da cidade, o Parque do Pinheiro Grosso. Em 1995 entrei na área por uma trilha muito caprichada, feita com deck de madeira, e lá dentro encontrei um gigantesco pinheiro com cerca de 700 anos, tão grosso que precisa de 12 pessoas para ser abraçado na base. Esta Araucaria augistifoglia estava preservada e protegida cercado por bancos – e ouvindo música clássica bem baixinho, saindo de caixas acústicas discretamente escondidas nas folhagens. 
 Frutas na feira livre de Montalcino


Publiquei uma reportagem sobre isso na época, na revista Business Travel, e lá fui recuperar a explicação do porque: Gilberto Travi, músico e compositor bastante conhecido no Ro Grande do Sul, me disse que acreditava que a música só poderia trazer benefícios para as plantas e para os turistas. Ele estava certo.

 Toscana


Então pergunto à Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale): se a serra gaúcha já fazia isso há 17 anos e a técnica se mostrou positiva para vinhedos em uma das regiões produtoras mais técnicamente controladas do mundo, não seria o caso dos produtores de vinhos da serra gaúcha pensarem nisso? Vocês não estariam copiando, e sim adaptando uma tecnologia gaúcha. Aliás, sugiro que para ver mais detalhes acesse o site http://www.parquedopinheirogrosso.com.br/ 


Vinhedo na Toscana

Segundo um dos distribuidores, o processo de fabricação do Brunello de Montalcino DOCG Paradiso di Frassina inclui “12 mesi in botti di rovere francese da 5 hl altri 18 mesi in botti di rovere da 20 hl ed ulteriori 18 mesi in bottiglia” e custa 20,80 Euros – na Itália! Como a empresa ainda não tem distribuidor próprio no Brasil, se você quiser experimentar o vinho fonobiológico de Cignozzi, tente no site http://www.alparadisodifrassina.it/home.php

Este post é dedicado a Gilberto Travi, grande compositor e músico, de quem tive a honra de ser amigo e admirador, infelizmente falecido em novembro de 2011.
Para saber mais sobre Gilberto Travi: http://emiliopacheco.blogspot.com.br/2011/11/gilberto-travi-e-o-calculo-iv.html   ou http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/pwtambor/usu_doc/mr_lee.pdf
 
(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br - é jornalista e consultor especializado em sustentabilidade. E sim, gaúcho com muita honra.








segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Brasil - Vale dos Vinhedos: nossa primeira DO


Colheita em Bento Gonçalves-RS, Vale dos Vinhedos

Por Rogerio Ruschel (*)

Uma boa notícia: em 11 de setembro de 2012 o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) deferiu o pedido de registro de Denominação de Origem (DO) para o Vale dos Vinhedos na serra gaúcha, para vinhos e espumantes. O registro foi obtido pela Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) e contou com a parceria da Embrapa Uva e Vinho, Embrapa Clima Temperado e Embrapa Florestas, com a UCS, a UFRGS e a Finep, entre outros.(Aliás, outra boa notícia: espera-se para os próximos dias um acordo entre produtores brasileiros, importadores e governo para a retirada do pedido de salvaguardas para os produtos nacionais. Oxalá!)

A produção do Vale dos Vinhedos varia entre 12 e 14 milhões de garrafas de vinhos finos por ano. Cada propriedade do Vale dos Vinhedos tem, em média, 2,5 hectares cultivados por famílias que cultivam vinhedos próprios. O terroir dos vinhos do Vale tem parâmetros de qualidade aplicados pelas vinícolas a partir da certificação da Indicação de Procedência (de 2002) que antecedeu a Denominação de Origem. Conheça os parâmetros abaixo.

Agora se espera que o vinho DO Vale dos Vinhedos tenha sua credibilidade protegida com controle severo dos produtos certificados e seja competitivo também em preço para não precisar de legislação protetora contra produtos estrangeiros.

E finalmente espera-se que a Aprovale perceba a importância de fazer marketing enoturístico também de qualidade, com convites para visitas técnicas e degustações para jornalistas e trade e propaganda de bons produtos turísticos. Este será um longo aprendizado. Quer um exemplo claro? A foto que ilustra este blog é de da Prefeitura de Bento Gonçalves porque não existem fotos ou outros serviços disponíveis para jornalistas no site do Vale dos Vinhedos - http://valedosvinhedos.wordpress.com/

A falta de união entre produtores – que atrasou em pelo menos 3 décadas esta DO - prejudica os negócios de todos. Como uma contribuição, sugiro que a Aprovale leia e compartilhe entre seus associados as dicas do especialista Carles Mera Margalet, publicadas aqui no In Vino Viajas dia 15 de outubro, com o titulo “10 dicas do enoturismo bem feito”. É o básico – e pode ajudar a melhorar o que jea vem sendo feito.

Regras da DO Vale dos Vinhedos

 A Denominação de Origem Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos é a primeira região com Denominação de Origem (DO) de vinhos no país. Sua norma estabelece que toda a produção de uvas e o processamento da bebida seja realizada na região delimitada do Vale dos Vinhedos. A DO também apresenta regras de cultivo e de processamento mais restritas que as estabelecidas para a Indicação de Procedência (IP), em vigor até a obtenção do registro da DO.

 Produção vitícola:
 - As uvas devem ser totalmente produzidas na região delimitada pela IG e conduzidas em espaldeira.
-       A irrigação e o cultivo protegido não são autorizados. A colheita é feita manualmente.

 Cultivares autorizadas:
 - Tintas: Merlot, como cultivar emblemática e Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat como variedades complementares.
 - Brancas: Chardonnay como cultivar principal e Riesling Itálico como variedade complementar.
 - Para espumantes (brancos e rosados): Chardonnay e/ou PinotNoir como variedades principais e Riesling Itálico como variedade auxiliar.

 Limites de produtividade:
 - Para uvas tintas: 10 toneladas/ha ou 2,5 kg de uva por planta.
 - Para uvas brancas: 10 toneladas/ha ou 3 kg de uva por planta.
 - Para uvas a serem utilizadas na elaboração de espumantes: 12 toneladas/ha ou 4 kg de uva por planta.

Produtos autorizados:
 Vinhos tintos
- Varietal Merlot: Mínimo de 85% da variedade.
- Assemblage Tinto: Mínimo de 60% de Merlot, podendo ser complementado pelas demais variedades autorizadas.
- A comercialização somente pode ser realizada após um período de 12 meses de envelhecimento.
Vinhos Brancos
- VarietalChardonnay: Mínimo de 85% da variedade.
- Assemblage Branco: Mínimo de 60% de Chardonnay, podendo ser complementado por Riesling Itálico.
- A comercialização somente poderá ser realizada após um período de seis meses de envelhecimento.
Espumantes
- Base Espumante: Mínimo de 60% de Chardonnay e/ou PinotNoir, podendo ser complementado por RieslingItálico
- Elaboração somente pelo Método Tradicional
- O processo deverá durar no mínimo nove meses

Graduação alcoólica:
- Tintos: mínimo de 12%, em volume
- Brancos: mínimo de 11%, em volume
- Base espumante: máximo de 11,5%, em volume

Outras normas:
- O espumante deve ser elaborado somente pelo “Método Tradicional”, com segunda fermentação em garrafa, que deve constar no rótulo principal, nas classificações nature, extra-brut e brut.
- A chaptalização e a concentração dos mostos não são permitidas. Em anos excepcionais o Conselho Regulador da Aprovale poderá permitir o enriquecimento em até um grau.
- Pode haver a passagem dos vinhos por barris de carvalho, não sendo autorizados “chips”e lascas ou pedaços de madeira.

Processo de rastreabilidade:
A Aprovale possui um Conselho Regulador responsável pelo regulamento de uso da Indicação Geográfica do Vale dos Vinhedos. Cabe a este conselho fazer o controle e fiscalização dos padrões exigidos pela normativa da atual IP e da DO. O Conselho Regulador mantém cadastro atualizado das vinícolas solicitantes da certificação e utiliza informações do Cadastro Vitícola do Ministério da Agricultura, coordenado pela Embrapa Uva e Vinho, para determinar a origem da matéria-prima. Para controle da certificação são utilizadas as declarações de colheita de uva e de produtos elaborados, a partir das quais retira as amostras para análises físico-químicas, organolépticas e testemunhais. Estas amostras são lacradas e codificadas. Essa sistemática permite a rastreabilidade dos produtos.

Padrões de identidade:
Os produtos somente recebem o certificado após comprovada a origem da matéria-prima. 100% da uva deve ser procedente da área demarcada. Também precisam ser aprovados nas análises físico-químicas e na avaliação sensorial (degustação às cegas), realizada pelo Comitê de Degustação, composto por técnicos da Embrapa, técnicos de associados da Aprovale e da Associação Brasileira de Enologia.

Rotulagem:
- Os produtos engarrafados da D.O são identificados no rótulo principal e no contrarrótulo.
- Os vinhos tranqüilos podem identificar a safra e a variedades.
- Os espumantes devem utilizar a expressão “Método Tradicional”.
- Para o contrarrótulo, além das informações estabelecidas pela legislação brasileira, os espumantes podem identificar as variedades utilizadas, o tempo de contato com as borras e o ano de “dégorgement”.
- É obrigatório o uso da numeração de controle sequencial

Foto de Gilmar Gomes, do site da Prefeitura de Bento Gonçalves

(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br - é jornalista de turismo e meio ambiente e consultor especializado em sustentabilidade - http://www.ruscheleassociados.com.br/.
 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Enoturismo bem feito: 10 dicas de especialista



Por Rogério Ruschel (*)

Encontrei na vinosfera - o universo internético do vinho - um conjunto de dicas muito interessantes do especialista espanhol em vinificação, marketing e promoção de enoturismo Carles Mera Margalet.

Se você é um turista, como eu – e não um responsável pelo marketing de uma bodega ou vinhedo - também pode aproveitar as dicas porque, se na sua visita perceber que o local não está seguindo estas dicas, o pacote turístico não está bem feito.


Abaixo seguem as 10 dicas no original em espanhol. Um brinde ao enoturismo bem feito.

1. Planificar un guión: Buscar un elemento, un hecho histórico, una leyenda, un personaje que sea el eje de la visita y nos ayude a articular una visita con interés.

2. Asociar una explicación a cada espacio. Hemos de tener claro qué queremos explicar, y para que esto ocurra hemos de estructurar un discurso, generar una explicación para cada sala o espacio que vayamos a visitar.

3. Definir los elementos clave de la visita: En cada espacio habrá un elemento clave que nos ayudará a explicar nuestro discurso, un elemento simbólico que nos articulará y clarificará la visita.

4. Bautizar cada servicio, cada visita. Un nombre es una idea, un concepto, y según como bauticemos nuestras visitas estamos generando unas expectativas. Si no generamos expectativas, el visitante no tiene interés.

5. Generar la participación del visitante: el elemento principal de la visita no es el recurso, sino el visitante, y por este motivo hemos de crear complicidad y buscar espacios donde interactuar con él, generando su participación de forma activa. El visitante quiere ser el protagonista.

6. Dinamizar diferentes visitas: todos los visitantes no son iguales, y por lo tanto hemos de crear diferentes tipos de visitas, adaptadas a las necesidades de los diferentes tipos de visitantes, en los que nos queramos centrar. Según el grado de conocimiento, según la edad, según el momento del año, diferentes criterios que nos harán de nuestra visita una experiencia única y singulares.

7. Crear algún recuerdo: todos queremos llevarnos algún recuerdo de nuestra estancia en cualquier espacio: Por ello debemos buscar algún objeto significativo, económico, diferencial y auténtico que se puedan llevar y que sea duradero, así siempre nos tendrán presentes.

8. Adaptar algún espacio significativo para que el visitante se pueda hacer una foto: es importante también facilitar que esta fotografía se pueda enviar por internet o que el visitante pueda interactuar con su red social. O incluso crear un aplicativo que pueda adaptarse a su móvil que inmortalice la visita.


9. Crear espacios para la experimentación: el visitante quiere vivir una experiencia, y por este motivo le daremos a degustar algún producto, un vino o cualquier producto identitario del territorio. En este momento crearemos un ambiente propicio para transmitir los valores de la marca, para incitarlo al consumo para hacerlo nuestro amigo y convertirlo en nuestro mejor embajador.

10. Calcular el tiempo: si nos excedemos en el tiempo la visita será un tostón, y si la acortamos mucho será un timo, el reloj será siempre nuestro mejor aliado. Una buena visita tiene que durar entre una hora y una hora y media. Podemos alargarla, pero siempre como un servicio complementario a la visita básica.

Outras dicas de Carles Mera, do blog  Enoturismo 2.0 - Vinexus Gastronomádas, podem ser encontradas em http://www.carlesmera.com

Este post é dedicado a Alfredo Cousandier, leitor que honra este blog, morador na serra gaúcha, o mais importante pólo produtor de vinhos do Brasil que acaba de ter a primeira DO (Denominação de Origem) brasileira, deferida pelo INPI em 11 de setembro: DO Vale dos Vinhedos, para vinhos e espumantes.

(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br  - é turista inveterado, jornalista e consultor especializado em sustentabilidade - http://www.ruscheleassociados.com.br/


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Arquitetura grega: Agrigento e Segesta, na Sicilia




Por Rogério Ruschel (*)
A riqueza cultural e histórica da Sicília é tão surpreendente que na ilha italiana existem mais monumentos da Grécia Antiga do que na própria Grécia. Esta herança também se refere à cultura romana (como a casa romana mais bem conservada do mundo, em Piazza Armerina - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/11/corrupcao-em-piazza-armerina-mosaicos.html), e se mostra mais exuberante no Vale dos Templos, em Agrigento, e em Segesta, onde está o tempo dórico mais bem preservado do mundo - todos tombados como Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO.


Segesta tem uma história de mais de 25 séculos. Fundada como Egesta por elimianos, povos oriundos de Tróia (que fundaram também Erice, que você pode ver em http://invinoviajas.blogspot.com.br/2012/11/os-misterios-de-erice-sicilia.html), era uma cidade-estado em permanente conflito com a vizinha Selinunte e foi destruída por Cartago em 307 A.C., reconstruída, invadida pelo rei grego Pirro, do Épiro e Macedônia em 278 A.C. e finalmente rendeu-se aos romanos em 260 A.C., quando passou a se chamar Segesta e ganhou imunidade e liberdade, controlando um vasto território siciliano. 


Localizado em Calafatimi-Segesta, atual Província de Trapani, cerca de 70 quilômetros da capital Palermo, o templo grego de Segesta parece que foi construído “semana passada” e não no século 5 A.C e apresenta várias curiosidades. Implantado sobre o Monte Bárbaro perto do centro da cidade, o templo tem 6X14 colunas que não receberam acabamento, e mede 21 X 56 metros na base. Segundo especialistas, o teto nunca teria sido colocado e a estrutura teria ficado apenas nos pilares não trabalhados, provavelmente por causa da invasão por Cartago em 209 A.C. Não se sabe para qual divindade foi dedicado.


Outro fato que espanta os historiadores é que se trata de um templo grego construído em uma cidade cuja população (na época) não era grega. Embora o templo de Segesta seja a principal atração, o turista tem alguns “bônus”: na região foram encontradas ruínas de um castelo Normando do século XIII, de uma pequena igreja terninada de 1442 e dedicada a San Leone e de uma mesquita islâmica do século XII A.C., além de um anfi-teatro encravado na rocha, construído no século II A.C. durante um dos períodos de dominação romana (veja abaixo). Una grande confusione, catzo, uma extraordinária herança arquitetônica!

Agrigento

O outro grande templo grego da Sicília fica em Agrigento, uns 180 quilometros ao Noroeste de Segesta. Também uma cidade-estado poderosa, Agrigento foi fundada pelos gregos, conquistada pelos romanos em 210 A.C. e ao longo dos séculos foi ocupada por bárbaros, bizantinos e normandos. Agrigento é a terra natal do escritor e teatrólogo Luigi Pirandello (Prêmio Nobel de Literatura de 1934), cujo Museu você pode visitar (veja abaixo), e denominada pelo poeta grego Píndaro “a cidade mais bonita dos mortais”.

 
A grande atração turística aqui é o Valle dei Templi (o Vale dos Templos, foto abaixo), um conjunto de templos romanos e gregos com mais de 25 séculos, parte obrigatória de qualquer visita à Sicília – até mesmo daqueles roteiros de poucos dias na ilha inteira.


  A sensação é estranha: em uma área de uns 15 quilometros quadrados convivem pelo menos 18 ruínas de templos, igrejas, oratórios, necrópoles, aquedutos e santuários gregos e romanos, como os templos de Castor e Pólux, de Hércules, de Zeus, de Esculápio, de Vulcano – e o Templo da Concórdia, o mais bem preservado de todos, construído pelos gregos que teria sido utilizado como igreja cristã nos tempos romanos (veja abaixo).
O tempo tem outra dimensão aqui: você passeia pelo site histórico e ao caminhar 500 metros pode sair de um templo grego do Séc. 3 A.C. e chegar em um templo romano de 4 séculos depois.  Em Agrigento você passa por um túnel do tempo, conhecendo culturas diferentes separadas por vários séculos de história! 
Se você tiver tempo (e espero que tenha!), passe pelo menos meio-dia no centro histórico de Agrigento, onde estão 14 igrejas interessantes. Visite pelo menos a Catedral e Museu Diocesano e a Piazza Vittorio Emanuele, um bom lugar para almoçar. Quando estive lá visitei a propriedade da Vinícola Morgante, na região de Grotte, onde são produzidos vinhos finos da casta Nero D’Avola. Naquele ano o tinto Don Antonio havia recebido 90 pontos da revista “Wine Spectators e 92 pontos da revista “The Wine Advocates” que o considerou o melhor Nero d’Avola do mundo. 
E se for na alta temporada talvez valha a penas dar um pulo às Ilhas Pelagio (uns 180 quilometros de Agrigento), a meio caminho da Sicília (Europa) e a Tunísia (África), perto de Malta, para conhecer Lampedusa e provar seus frutos do mar.

Este post é dedicado a Maria Aparecida Martins, a Cida, que me honra com sua leutira e divulgação; ela adora Portugal mas tenho certeza de que não desgosta da Sicília.


Veja mais sobre a Sicilia:


Lenguaglossa, Moio Alcântara, Castiglione e Malvagnia:



Tindari e as montanhas Peloritani:




Pesquisa da Universidade de Catania:







(*) Rogério Ruschel - rogerio@ruscheleassociados.com.br  - é turista inveterado, jornalista e consultor especializado em sustentabilidade - http://www.ruscheleassociados.com.br/. Ruschel esteve na Sicília durante 30 dias, em 2005, pesquisando roteiros turísticos turísticos.